Por bferreira
Rio - Ninguém gosta de crise, de sufoco, de menos dinheiro no bolso, de desemprego. Mas o aperto funciona como freio de arrumação, nos obriga a pensar sobre nossas vidas e despesas. Vale para questões pessoais e familiares e também para outras, mais gerais. Governantes, por exemplo, costumam gastar muito e mal; de vez em quando, ainda se metem em bandalheiras que estimulam outras menores, feitas por quem não desfruta as benesses do poder.
Diante de tantas safadezas, muita gente se acha no direito de pegar um naco do “dinheiro do governo”. Há o sujeito que se casa com mulher bem mais jovem apenas para que ela vire herdeira de sua pensão. Outros que, com o mesmo propósito, transformam-se oficialmente em pais de filhos de outras pessoas. Muitas senhoras não se casam formalmente para não perder benefício destinado a filhas solteiras. Na mesma categoria ingressam os que sonegam impostos.
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Mas voltemos à esfera pública. Embriagados pelo dinheiro fácil que jorrava do petróleo, governadores e prefeitos fluminenses andaram jogando dinheiro pela janela — algumas das cidades mais beneficiadas pelos royalties apresentam índices vergonhosos na Educação. O governo estadual fez besteiras como a de atrelar essa grana ao pagamento de inativos. Nos últimos anos, investiu mais de R$ 1 bilhão para destruir e reconstruir o Maracanã, não cortou gastos de forma significativa, não fiscalizou com rigor contratos na área da Saúde, concedeu generosos aumentos de salário em ano eleitoral. Para azeitar alianças e conquistar votos, assumiu tarefas que deveriam ser de prefeituras, como o asfaltamento de ruas.
A crise que fez quebrar o estado ressalta todos esses problemas, mas há muitos outros. A escassez de grana joga luz em absurdos como vantagens concedidas a setores do funcionalismo — vale citar os auxílios educação e moradia para magistrados e integrantes do Ministério Público. A sociedade também precisa dizer se quer mesmo pagar para que pessoas se aposentem antes mesmo de completar 50 anos de idade e se acha justo que viúvas jovens de octogenários tenham direito a pensão vitalícia. Esses benefícios não são pagos com dinheiro “do governo”, mas com o de todos nós.
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E-mail: fernando.molica@odia.com.br