Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Pais e alunos de Brasília estão denunciando que os professores não estão repondo as aulas perdidas com a greve de outubro e novembro. As escolas e o sindicato dos docentes garantem ter ficado em dia com o calendário, mas há casos em que, em quatro sábados, com turnos de manhã ou de tarde, o colégio deu por repostos 19 dias devidos. A elaboração do ‘intensivão’ ficou a cargo das unidades, já que, em algumas, somente alguns professores fizeram greve, o que torna o problema ainda mais complicado. 
Essa questão traz à tona uma reflexão essencial: o que deve ser reposto são dias de aula ou de aprendizagens? Penso que a reposição deve ser de aprendizagens. Primeiro, porque no retorno após uma greve, é necessário dedicar algum tempo para revisão para reaquecer as turbinas e seguir em frente. O processo de aprendizagem não é linear nem instantâneo e, por causa disso, exige um período para ser retomado após uma interrupção.
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Em segundo lugar, a aprendizagem não é proporcional aos dias de aula e, por isso, não pode ser tratada de forma simplesmente matemática. Essa desproporção tende a aumentar quando esses dias de reposição são nos fins de semana ou no período de recesso escolar. A predisposição e a motivação dos alunos para aprender (e a dos professores para ensinar) são bem menores quando se tem que ter aulas nos sábados e nas férias. Se queremos de fato repor aprendizagens, isso precisa ser levado em conta.
A terceira reflexão diz respeito ao baixo nível das aprendizagens que, em média, ocorre em nossas escolas. Numa escola que, em média, não garante mais do que 20% do que os alunos deveriam aprender em 200 dias letivos, o que eles deixaram de aprender em 19 dias?
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Acredito que a melhor solução seria, com exceção das séries terminais, redimensionar todo o período letivo seguinte. Em vez de exatos dias perdidos compensados através de subterfúgios ‘para inglês ver’, a escola deveria avaliar formativamente e fazer um replanejamento do próximo período letivo, ampliando e dinamizando o currículo para que todos aprendam não somente o que deixaram de aprender durante a greve, mas o que deveriam ter aprendido mesmo se a greve não tivesse ocorrido.
Júlio Furtado é professor e escritor
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