Por felipe.martins

Rio - O triste episódio do estupro coletivo supostamente sofrido por uma adolescente de 16 anos em uma comunidade do Rio estarreceu o país. É de indignar a brutal agressão e o que se espera é que a polícia investigue a fundo, chegue aos responsáveis e que todos sejam punidos. Mas o ataque à jovem, infelizmente, não é isolado. É a triste realidade de centenas de mulheres vítimas de violência, cotidianamente, mas que não ganham visibilidade na grande mídia nem os esforços necessários para elucidação desses crimes.

Por isso, a barbárie contra a menina, em pleno século 21, põe o dedo em uma ferida difícil de cicatrizar que é a impotência de governos e da sociedade para lidar com toda sorte de ataques sofridos por milhares de brasileiras. E pior ainda, a maioria dentro de suas próprias casas.

E a agressão sexual não está nem no topo da lista. Levantamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República mostra números cruéis. De janeiro a outubro do ano passado, foram 63.090 denúncias de violência contra a mulher, sendo que 31.432, de agressões físicas (49,82%); 19.182, violência psicológica (30,40%); 4.627, violência moral (7,33%); 3.071, cárcere privado (4,97%); 3.064, violência sexual (4,76%); 1.382, violência patrimonial (2,19%); e 332, envolvendo tráfico (0,53%).

E o mais preocupante: 85,85% corresponderam a situações de violência doméstica e familiar. Os agressores são companheiros, cônjuges, namorados ou amantes, ex-companheiros, ex-cônjuges, ex-namorados das vítimas.

A essa trágica estatística, são bem-vindas medidas como a Lei Maria da Penha, que impõe maior rigor a infratores, e recentemente a aprovação de projeto no Congresso que inclui as vítimas de violência num programa assistencial, com pagamento de um salário mínimo e direito a acomodações em abrigos, entre outras. Mas não bastam. É preciso avançarmos muito mais.

O ciclo de violência contra as mulheres nunca será quebrado se os governos não reformularem suas leis e políticas públicas. A começar pelo combate sistemático a todas as práticas discriminatórias que regulam não só o acesso delas à saúde como também a programas culturais, sociais, políticos e econômicos.

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