Por pierre

Foi uma semana pesada, cheia de emoções. Começou com um cidadão matando a mulher e jogando-se com os filhos pela janela do 18º andar. Já na sequência, tivemos a consolidação de uma jogada política desavergonhada. O que me aliviou a alma foi a chegada do novo livro do peruano Mario Vargas Llosa, ‘Cinco esquinas’ — que, aliás, tem muito a ver com o cenário brasileiro. Está tudo lá: tirania, manipulação da imprensa, crimes vários. E um sexozinho bem safado, que ninguém é de ferro.</CW><CW-25>

No centro da história, temos o milionário Enrique, que, a certa altura, começa a ser chantageado por conta de fotos cabeludas flagrando-o em posições não muito nobres. O vilão, aí, é o mau-caráter Rolando Garro, dono de um jornal de fofocas feito só para atazanar empresários, políticos e artistas. Rolando é sincero. Está no mercado para ganhar dinheiro extorquindo de gente rica. Esse tipo de armação editorial, aliás, também foi tema do último romance do Umberto Eco, ‘Número Zero’, o que é sintomático em relação ao rumo de certa parte da imprensa sensacionalista.

Mas Rolando não vai muito adiante no seu plano. Seu mentor é ninguém menos que o Doutor, braço direito do presidente da República, Alberto Fujimori. Sujeito absolutamente malvado, o Doutor o tinha proibido de fazer tal jogo sujo, e a desobediência vai custar caro ao jornalista pilantra. Para quem gosta de novelas policiais, taí uma pedida.

Como é comum em seus livros, Llosa mistura elementos reais à história (aparentemente) fictícia. Fujimori, por exemplo, foi presidente do Peru nos anos 1990, sendo responsável por casos de corrupção, violência e crimes políticos. Llosa chegou a concorrer à presidência com ele, que acabou condenado a 25 anos de prisão — assim como o verdadeiro Doutor, Vladimiro Montesinos, chefe do serviço de inteligência de Fujimori. Na literatura, ao menos, Llosa saiu vencendo.

Noutro núcleo de ‘Cinco esquinas’, quase independente da trama central, temos a súbita paixão entre duas belas amigas, Marisa e Chabela. É uma aula de narrativa caliente sem ser vulgar. Coisa de mestre, que já esbanjara sensualidade em outros tantos romances, mas nunca ousou tanto como agora. A conferir.

Por essas e por outras, minha sugestão para este sábado é que você vá à livraria mais próxima, compre ‘Cinco esquinas’ e mergulhe sem pressa nas suas 200 páginas. Esta certamente não é a maior das obras do Vargas Llosa. Ainda assim, é melhor do que a maioria do que está saindo por aí.

Nelson Vasconcelos é jornalista

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