Por bferreira

Rio - A resistência ao processo de pacificação no Complexo do Alemão já tem impacto na saúde da população local. Dos 21 médicos da UPA do conjunto de favelas, oito pediram demissão recentemente. A dificuldade em formar equipe para a unidade já é um problema, segundo o secretário municipal de Saúde, Hans Dohman. O motivo das baixas está ligado a casos de agressão aos profissionais. E uma das suspeitas é de que os episódios são incentivados por pessoas ligadas ao tráfico, que querem a saída da UPP das favelas.

Alemão tem passado por dias complicados. Na semana passada%2C por ordem do tráfico%2C o comércio fechou as portas e deixou 13.225 alunos sem aulaAlessandro Costa / Agência O Dia

“Balançar o serviço público que está se instalando faz parte do processo daqueles que querem instabilizar a pacificação nas comunidades ocupadas. É essa leitura que faço”, afirmou o secretário.

O assunto preocupa tanto Dohman que ele pretende se reunir com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, para debater a questão.
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Um dos médicos pediu demissão após levar um soco na cabeça de um paciente. Mas um outro ‘inimigo’ tem sido a proliferação de boatos, como o de que a UPA está sem profissionais. Para o secretário, essas informações plantadas acabam criando um clima de hostilidade com as equipes da unidade e motivando os moradores a chegarem insatisfeitos e impacientes para a consulta.
“Juro por Deus. Não demorou três minutos para o atendimento dessa pessoa que deu o soco. Sabemos disso porque o sistema é informatizado. O médico se demitiu e foi embora. Óbvio. Está cheio de emprego para ele em outros lugares. Na hora que você quer contratar, o profissional pensa: ali tem uma confusão atrás da outra. O que tem mais chamado a atenção no local é que, em 90% dos casos, as confusões são completamente infundadas”, contou Dohman.
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O Alemão tem passado por dias complicados. Na semana passada, por ordem do tráfico, o comércio fechou as portas e deixou 13.225 alunos de creches e escolas sem aula. Houve reforço no policiamento, mas o clima na comunidade é de tensão e medo.
Ocupação vai ganhar as telonas
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Erick Marmo é o ator mais cogitado para viver no cinema o coronel Mário Sérgio de Brito Duarte. O oficial era comandante-geral da PM quando as forças de pacificação tomaram o Complexo do Alemão, em 2010. No ano passado, ele lançou o livro “ Liberdade para o Alemão — O resgate de Canudos”, que conta a história da ocupação e vai virar filme. “O fato real tem que ser contado da forma como aconteceu. Não é uma ficção. Por isso, a intenção é que os personagens tenham os mesmos nomes que aparecem no livro. As histórias narradas lá são verdadeiras”, afirmou o coronel, que, como caveira e ex-comandante do Bope, não teme que o filme acabe falando sobre a tropa de elite. “É quase inevitável”.
Mesmo com os episódios de violência no Alemão, o coronel é um entusiasta da pacificação na comunidade. “Aquilo era uma estrutura de poder com características de ‘subnação’. Você não consegue transformar aquela realidade se não desconstruir os valores por anos alimentados pelo tráfico . Isso vai levar 10, 15 anos, mas não é impossível”.
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