Rio - Eraldo Santos da Silva, de 41 anos, morto durante tiroteio na Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte, será enterrado nesta quarta-feira, às 16h, no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Govermador.
O garçom foi um dos três moradores mortos em confronto que deixou outras seis vítimas fatais, entre elas o sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Ednelson Jeronimo dos Santos Silva, de 42 anos, e cinco suspeitos.
Na manhã desta quarta-feira, um blindado segue na frente da comunidade Nova Holanda, no 22ºBPM (Maré). A Força Nacional de Segurança está posicionada nos acessos à comunidade e a PM reforçou o policiamento na região.
Traficantes prometem retaliação na Maré
Inspirados no sucesso das manifestações convocadas pelas redes sociais, mas sem o mesmo intuito positivo, homens que seriam traficantes da Nova Holanda comemoravam a morte do sargento do Bope, lamentavam a de suspeitos e organizavam pelo Facebook atos de violência em repúdio à operação do Bope.
Sem medo da exposição, suspeitos exibiam fotos em seus perfis e já se mostravam organizados. Em tom de ameaça, um suposto criminoso que se identifica como ‘Tatajuba Silva’ prometia ataque em massa contra os policiais de madrugada.
Já o ‘Menor Rai’ postou vídeo de policiais falando sobre a dificuldade de trabalhar em morros. Outros torciam pela recuperação de bandidos feridos.
O professor Carlos Nepomuceno, 53 anos, que é especialista em mídias sociais e leciona há 10 anos no MBA do Coppe/UFRJ, comentou o tema:
“Pedófilos já utilizam essa ferramenta há muito tempo. O projeto de terrorismo do 11 de Setembro, nos Estados Unidos, também foi articulado pela Internet”, relembrou o professor. Ele acredita que o Brasil terá que criar antirredes inteligentes para desarticular essas organizações.
Guerra às vésperas de ocupação
Às vésperas de uma ocupação definitiva pelas forças de segurança na Maré, a guerra entre policiais e traficantes nesta terça naquele conjunto de favelas deixou rastro de nove mortos, protestos e revolta de moradores ilhados pela violência.
Os confrontos mais intensos foram travados a partir da noite de segunda-feira, quando policiais dos batalhões de Choque e de Operações Especiais (Bope) tentaram reprimir arrastão promovido por bandidos da Nova Holanda.
A morte de um sargento da tropa de elite desencadeou megaoperação que cercou a Maré com 400 agentes de quatro unidades por tempo indeterminado.
Entre os mortos, ao menos três moradores da comunidade: José Everton Silva de Oliveira, 21, o garçom Eraldo Santos da Silva, além de adolescente de 16 anos. O tiroteio durou cinco horas e podia ser ouvido da Avenida Brasil, onde muitos moradores permaneceram durante a madrugada de ontem, sem conseguir chegar em suas casas.
Alguns pontos da favela ficaram sem luz. A Força Nacional de Segurança deu apoio à operação.
A ação da polícia em busca dos assassinos do policial Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, de 42 anos, foi criticada por moradores e representantes de ONGs que atuam no complexo. Eles fizeram dois protestos, um deles pacífico, no interior da Nova Holanda.
“A mesma rajada de tiros atingiu nosso policial, o morador que morreu e deixou algumas pessoas feridas”, alegou o major Ivan Blaz, porta-voz do Bope.
À espera de laudos
A Divisão de Homicídios (DH) — que assumiu as investigações sobre as mortes — e a 21ª DP (Bonsucesso) fizeram perícias. “Se houve excesso, será reprimido. Se houve legitimidade, vamos legitimar a ação. Mas temos que esperar os laudos. A investigação não acabou”, disse o delegado Rivaldo Barbosa, da DH.
O subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Laureano Matos, se reuniu nesta terça-feira com moradores e a deputada estadual Janira Rocha (Psol), numa ONG na favela.
O Ministério Público solicitou à Light a religação da luz imediatamente. A visita foi acompanhada pelo procurador Márcio Mothé Fernandes.
Perícia é acompanhada por defensores de Direitos Humanos
A perícia no local foi acompanhada por membros do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública e do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos do estado.
“Há muitas marcas de bala e sangue, projéteis pelo chão e portas arrebentadas. Com certeza, foram mortos em casa. Vamos acompanhar para saber se houve execução”, afirmou o defensor Henrique Guelber.
Três menores foram apreendidos, e três homens, presos. Eles estariam com drogas e pistola. Edvan Bezerri, o Ninho, de 29, foi interrogado sob suspeita de ter matado o sargento.
“Ele estava dormindo comigo, não há provas. Tive que trocar de roupa na frente de PM e levei tapa na cara”, disse a mulher do suspeito, de 15, grávida.