Rio - Familiares do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 47 anos, foram na manhã desta quarta-feira até o laboratório de análise da Academia de Policia Civil (Acadepol), onde cederam amostra de sangue para exame de DNA. A análise dirá se é dele o sangue encontrado por peritos no carro 6014 usado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. Os dois filhos de Amarildo tiveram material coletado. O resultado deve ficar pronto nesta sexta-feira.
Irmã do pedreiro, a doméstica Maria Eunice Dias Lacerda disse que espera que o resultado seja positivo para que a família possa finalmente ter paz. "Tenho certeza que meu irmão está morto. O que esperamos é que esse exame seja positivo, pois como não temos esperança de encontrá-lo vivo, isso daria um grande alívio à nossa família", disse.

De acordo com o delegado titular da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone, um relatório não conclusivo foi entregue nesta quarta à Divisão de Homicídios (DH), que assume as investigações. A mudança cumpre determinação da chefia de Polícia Civil de que, após 15 dias sem conclusão dos trabalhos, a apuração deve passar para a delegacia especializada.
Zaccone informou ainda que uma testemunha teria visto um gari sendo forçado a retirar um corpo da favela. Nesta terça, agentes da distrital foram até um depósito da Comlurb no Caju, mas nada encontraram. Segundo o delegado, o lixo retirado na comunidade já havia sido enviado para depósito de Seropédica.
No fim da tarde desta terça, na Rua do Valão, na Rocinha, porém, policiais encontraram um corpo no valão. Mas era de Gisele da Silva Santos, uma moradora da favela de 31 anos que estava desaparecida há quatro dias. Parentes que identificaram o corpo de Gabriela informaram que ela era viciada em drogas, vivia pelas vielas da comunidade e nem sempre voltava para dormir em casa.
Desaparecido desde o dia 14
Amarildo foi levado na viatura 6014 até à sede da UPP, no dia 14. Desde então, está desaparecido. Peritos encontraram sangue no porta-malas e no banco de trás do carro. Os primeiros exames confirmaram que o material no banco era de homem, mas não foi possível identificar a origem do que estava no porta-malas.
Imagens gravadas por câmeras de segurança mostraram o pedreiro no carro com a identificação 6014 e depois entrando na sede da UPP. A partir daí, ele não foi mais visto. Os policiais alegam que o liberaram, mas não há nenhum registro de sua saída da unidade. Segundo os homens da UPP, as câmeras deixaram de funcionar.
Ato em Copacabana
O Movimento Rio de Paz realizou na manhã desta quarta-feira um protesto na Praia de Copacabana, Zona Sul do Rio, contra os cerca de 35 mil casos de desaparecimentos não esclarecidos no Estado do Rio de Janeiro desde 2007. O mais recente deles é o do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 47 anos, morador da Favela da Rocinha.

Uma faixa preta com o questionamento "Onde está Amarildo?" foi estendida na areia. Manequins cobertos com máscaras e tecidos branco e vermelho foram espalhados em frente ao Copacabana Palace. Os bonecos serão enterrados no fim do ato.
Às 6h, Panos vermelho estendidos simbolizando sangue e manequins com máscaras e cobertos de tecido de filó branco foram espalhados na areia da praia em frente ao Copacabana Palace. Eles representam os desaparecimentos registrados ou não em delegacias desde 2007. Voluntários do Rio de Paz portarão cartazes com os números das mortes violentas no Estado do Rio. Eles também cobrirão seus corpos com o mesmo tecido usado nos manequins.
'Números são vergonhosos'
Segundo Antonio Carlos Costa, presidente do Rio de Paz, de 2007 a maio de 2013, 34.681 pessoas desapareceram, conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio. A projeção é de que o número já ultrapasse os 35 mil casos. Ele afirmou ainda que mais de 40 mil mortes violentas ocorreram no estado entre 2007 e julho de 2013, durante o governo de Sérgio Cabral.

"Esses números são vergonhosos para o Estado do Rio de Janeiro. O número de desaparecimentos e de homicídios é bem maior do que os divulgados oficialmente. O caso do Amarildo aponta para essa realidade trágica, inaceitável sob todos os aspectos, especialmente, para este novo Brasil que emerge nas ruas, não tolerante tanto com a prática de crimes tão hediondos, quanto com o fato de o poder público não os combater, esclarecer e punir os culpados", disse Antonio Carlos.
O presidente do Rio de Paz explicou ainda que o tecido branco de filó que cobre os manequins foi escolhido para provocar uma imagem difusa, de incerteza.
O presidente do Rio de Paz explicou ainda que o tecido branco de filó que cobre os manequins foi escolhido para provocar uma imagem difusa, de incerteza. As máscaras neutras simbolizam as pessoas mortas ou desaparecidas que viraram estatística. No fim do protesto, previsto para às 10h30, os bonecos serão enterrados na areia.