Rio - Criado em 2008, o programa das Unidades de Polícia Pacificadoras sofreu um baque na noite de sábado, com a morte do soldado Melquisedeque Basílio dos Santos, 29 anos, lotado na UPP Parque Proletário, na Vila Cruzeiro, Penha, após ataque de traficantes. Desde julho, quando a soldado Fabiana de Souza morreu durante patrulhamento na comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, até este domingo, foram sete PMs de UPPs mortos. O coordenador das Unidades de Polícia Pacificadoras, coronel Frederico Caldas, descartou uma ação orquestrada contra o programa.
“Não tem volta. As UPPs vieram para ficar”, disse o oficial, que afirmou ter recebido denúncias de moradores sobre movimentação estranha na Penha, e que por isso manteve os policiais em alerta — Melquisedeque estava na localidade conhecida como Vacaria com apenas dois policiais a seu lado. No confronto que resultou na morte do soldado, outro policial militar foi atingido, assim como três moradores: Manoel de Moura, 30, e um menor de 16 anos ficaram feridos por estilhaços. Renato Nascimento, 29, foi baleado com um tiro de fuzil no cotovelo direito. Os três passavam pelo local quando foram surpreendidos pelo tiroteio.
O ataque aconteceu por volta de 19h de sábado, quando pelo menos 15 traficantes, que seriam do Juramentinho, em Vicente de Carvalho, abriram fogo contra o soldado e outros dois PMs. Eles teriam chegado à localidade na quinta-feira, pela mata que liga as duas comunidades. Atingido com um tiro de fuzil nas nádegas, o soldado morreu antes de chegar ao Getúlio Vargas.
Entre os PMs, o clima era de tristeza e indignação, já que os três policiais teriam recebido ordens do comando para permanecer no local, mesmo após intenso tiroteio no dia anterior. “Melquisedeque era tranquilo, gostava de rock e nem portava arma fora do trabalho”, lamentou um amigo, indignado.
Conformado, pai diz que soldado cumpriu sua missão
Centenas de pessoas compareceram na tarde deste domingo ao enterro do soldado Melquisedeque Basílio dos Santos, no Cemitério Jardim da Saudade, na Sulacap. Único homem dos quatro filhos da família, o militar morava com os pais e tinha voltado de férias no dia anterior. Sua mãe, abalada, não conseguiu ir ao enterro. Já o pai, o motorista Luiz Carlos Basílio, 55 anos, lembrou que o sonho do filho era ser policial.
“É um momento de dor, mas a família compreende que ele veio cumprir sua missão. Ele sonhava ser policial. Ficou três anos na Marinha e, quando saiu, entrou para a UPP”, contou Basílio. Melquisedeque era solteiro e não tinha filhos. Uma parente contou que, no dia da morte, a mãe pediu para acompanhá-lo ao ponto de ônibus. O policial recusou e teria dito: “Mãe, fica em casa”.
Ele morreu por volta das 20h, a caminho do Hospital Getúlio Vargas. Melquisedeque foi atingido por um tiro que entrou na nádega direita e transfixou o estômago. Coordenador das UPPs, o coronel Frederico Caldas disse que 150 policiais atuavam na região da Vila Cruzeiro e Parque Proletário, quando ocorreu o tiroteio que matou o militar.
Tiros nas UPPs
2011
Um PM da UPP dos morros da Coroa/Fallet/Fogueteiro foi atingido durante patrulhamento em Santa Teresa. Alessandro Fávaro sofreu uma lesão irreversível por conta dos ferimentos decorrentes em setembro.
2012
O pior ano das UPPs. Quatro PMs morreram em troca de tiros. O caso da soldado Fabiana Aparecida de Souza, 30, morta em um ataque ao posto fixo da Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, foi o de maior repercussão.
2013
Melquisedeque é o terceiro PM de UPP morto este ano no trabalho. Os outros foram assassinados no Batan, em Realengo, e na Cidade de Deus, em Jacarepaguá.