Por thiago.antunes

Rio - Cinco anos e 233 favelas pacificadas depois, somente a cidade do Rio de Janeiro ainda tem 530 comunidades à espera de dias mais tranquilos — isto sem contar Niterói e os municípios da Baixada. Enquanto as UPPs não chegam a essas áreas, seus moradores, já acostumados à violência, vivem os efeitos contrários ao da pacificação: aumento da criminalidade e migração de bandidos de áreas já atendidas.

“Ouvir tiro é algo constante na nossa vida. Convivemos com o medo. E a nossa esperança era que colocassem uma UPP no Morro São José. Vivemos como reféns de uma guerra que não tem fim. É bandido contra bandido, bandido contra a polícia”. O desabafo é da auxiliar administrativa P., de 30 anos, moradora de Madureira, dividida entre o tráfico e a milícia. O bairro ainda sofre com as guerras na Fazendinha e Serrinha, que chegam a fechar o comércio em plena luz do dia. Área do 9ºBPM (Rocha Miranda), Madureira registrou aumento de homicídios, roubo de carros e assaltos em coletivos de janeiro a agosto desse ano, em relação ao mesmo período de 2012.

Moradores de Morro da Pedreira%2C em Costa Barros%2C incendeiam pneus em protesto contra a violência%3A bandidos foram buscar refúgio por láPaulo Araújo / Agência O Dia

Uma das áreas mais violentas do Rio, Costa Barros, tem favelas que abrigam bandidos das três facções criminosas, muitos oriundos de áreas pacificadas como Alemão e Morro dos Macacos. Os constantes confrontos na disputa pelos pontos de venda de drogas têm aterrorizado os moradores. Investigações da Polícia Civil apontam que a criminalidade na região deve aumentar com a pacificação da Maré, prevista para 2014, com a ida de criminosos para Acari.

Zona Oeste

Contemplada com UPPs apenas na Cidade de Deus, Batan e Fumacê, extensão do Batan, a Zona Oeste vê as favelas mais violentas ficaram de fora: Carobinha, em Campo Grande; Vila Kennedy, em Bangu; Coreia, Rebu e Sapo, em Senador Camará; e Vila Vintém, em Realengo, entre outras. Essa última é comandada por Celsinho da Vila Vintém, que está preso.

Da cadeia, ele ordenou o ataque ao Fórum de Bangu, mês passado, tentaram resgatar dois bandidos — na ação, uma criança de 8 anos e um PM morreram. No início do mês, confronto entre traficantes e milicianos na Carobinha deixou dois mil alunos da rede municipal sem aulas e fechou comércio na região.

Baixada e Niterói: mobilização para integrar programa

Baixada e Niterói, onde não há áreas pacificadas, também sofrem com os efeitos colaterais das UPPs da capital. Moradores relatam que passaram a conviver com uma rotina violenta após a implantação das unidades no Rio de Janeiro.

O aumento da violência na Baixada fez os prefeitos dos 13 municípios da região se reunirem com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. O grupo é liderado pelo prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos (PDT). “O que precisamos de imediato é o aumento do efetivo da PM para a região, que não acompanhou o crescimento da área. Moradores da comunidade têm reclamado da presença de bandidos circulando de fuzis pelas favelas. Houve migração de criminosos das áreas pacificadas para cá”, afirmou Mattos. 

Em Niterói, a população chegou a promover várias passeatas em protesto pela falta de segurança. “Ultimamente temos vivido dias de muita insegurança. Tiroteios têm sido constantes na comunidade onde fica a escola que trabalho. A gente joga as crianças no chão para protegê-las. Os pais ligam desesperados e ficamos presas até o confronto acabar”, contou uma professora de Niterói.

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