Por thiago.antunes
Rio - O jovem Conrado Chaves da Paz, de 19 anos, só queria celebrar um bom momento na vida profissional. Escolheu o mesmo destino que 60 mil pessoas a cada fim de semana: a Lapa. O mais importante complexo cultural da cidade, com dezenas de casas de show, casas noturnas e bares, alguns deles seculares e outros reconhecidos no mundo todo. Um bairro que virou mito nos anos 1920 por conta de sua atmosfera de boemia e que atravessou um longo período de decadência a partir dos anos 1940, com o auge do abandono nos anos 1960, quando foi concretizada a mudança da capital para Brasília.
Conrado acabou morto. Infelizmente não foi a primeira vítima da violência que dominou o bairro cultural carioca. Quantos mais terão que morrer para que a polícia atue com rigor e inteligência e, especialmente, de forma preventiva?
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Os empresários culturais que têm negócios na região do Rio Antigo já alertaram inúmeras vezes às autoridades, indicando possíveis pontos de concentração dos criminosos, inclusive recentemente, com a morte do artista plástico Jorge Selarón. Propostas foram apresentadas. Estava na mesa a ideia de criação de uma agência de desenvolvimento da Lapa e de um plano especial de segurança. Sugerimos a instalação de uma UPP ou de uma UOP.
A Lapa deveria ser um modelo de ocupação cultural para outras áreas da cidade, mas voltou a ser vítima da violência e do descaso, como em outros tempos. Um território que renasceu pela música, inicialmente nos anos 1980 - com o Circo Voador - e que recuperou o brilho musical no fim dos anos 1990, com samba e o choro nos antiquários e no casario histórico. Qual será o futuro dessa vitrine internacional para o Rio de Janeiro, que atrai turistas brasileiros e estrangeiros aos milhares todos os meses?
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O comentário da produtora cultural Maria Juçá, diretora do Circo Voador, resume o meu sentimento: “O Circo Voador se inclui nesse exaustivo trabalho junto às autoridades, apontando a urgente necessidade de um plano permanente de segurança para a Lapa e seu entorno. Estamos exaustos de socorrer vítimas de assalto na Lapa e nós mesmos sofremos essa violência, com ataques sofridos por nossos funcionários quando deixam o Circo na madrugada. A tragédia que aconteceu com o Conrado é consequência da falta da segurança e do descaso com que as autoridades tratam essa questão vital. Um jovem, que foi se divertir em um de nossos eventos acabou perdendo a vida. Na Rua do Riachuelo, Av. Mem de Sá e ruas transversais estão a olhos vistos pessoas armadas assaltando o público que frequenta a Lapa. Isso é uma vergonha. E a perda de Conrado é irreparável. Estamos todos muito tristes e indignados”.
Leo Feijó é empresário cultural e coordenador do fórum economia da noite, que debate questões de legislação e incentivos a essa indústria criativa no Rio. Desde 2004, ele abriu quatro empreendimentos na Lapa.