Por cadu.bruno
Rio - Cerca de 300 pessoas acompanharam o sepultamento do corpo de Conrado Chaves da Paz, de 19 anos, no Cemitério do Murundu, em Realengo, na Zona Oeste, na tarde desta segunda-feira. Emocionados e inconformados com o crime, amigos e parentes do rapaz pediam justiça.
Conrado morreu neste domingo, quando teria sido abordado por um grupo de usuários de crack na Avenida República do Chile, perto do número 500, no Centro, a 300 metros de uma cabine da Polícia Militar.
Família se emociona durante o sepultamento do corpo de Conrado Chaves da PazAlessandro Costa / Agência O Dia

"Ele ia voltando para casa, foi abordado e aconteceu. Sofreu um golpe e não teve escapatória. Como todo garoto, ele tinha sonhos. Quero que todos esses jovens amigos dele não tenham medo e continuem sonhando", disse Jorge Bomfim da Paz, de 64 anos, pai de Conrado.

Morador de Realengo, ex-aluno do tradicional Colégio Pedro II, ele foi morto com uma facada no coração. A suspeita é que ele tenha sido assassinado por causa de um celular, que desapareceu. No bolso, havia a carteira de identidade, R$ 50 e cartão de crédito.

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"As coisas estão acontecendo, mas isso não pode continuar. Tem que parar. Hoje é meu filho, mas amanhã pode ser outro rapaz", completou Jorge, que agora pretende ir à polícia para acompanhar de perto as investigações sobre o crime. Diretor da unidade Realengo do Pedro II, Vinícius da Cunha Fernandes, também prestou homenagem ao jovem. "Todos do Pedro II fazem parte de uma grande família", contou.

O jovem tinha ido ao Teatro Odisseia, na Lapa, com um grupo de 15 colegas. Eles foram comemorar aniversário de um amigo e se despedir de Conrado, que trocaria de emprego. O rapaz tinha deixado a loja Taco, do Norte Shopping, e começaria esta semana na Redley, em Madureira. Conrado bebeu apenas três cervejas. Na volta, sete amigos se dividiram em dois táxis e, como Conrado era o único que morava longe, ficaria caro para voltar para casa. Por isso, ele resolveu pegar um ônibus.

Conrado foi morto quando teria sido abordado por um grupo de usuários de crack na Av. República do ChileAlessandro Costa / Agência O Dia

O pai, Jorge Bonfim, disse que ele ficou de mandar uma mensagem quando chegasse na casa do amigo onde iria dormir. “Não entendi porque ele ficou sozinho. Onde estavam os amigos? Ele deve ter se assustado quando foi rendido. Não acho que enfrentaria ninguém”.

A arma usada para matar o rapaz, segundo o delegado Clemente Braune, da Divisão de Homicídios, foi “uma faquinha serrilhada usada para cortar pão”. A lâmina tem 12 centímetros. A polícia suspeita que Conrado estava lanchando quando foi abordado. Ao lado do corpo, foi encontrado um cachorro-quente pela metade.

“A gente acredita que, pela localização, foram mesmo usuários de crack”, disse o delegado, que já solicitou imagens das câmeras de monitoramento de prédios comerciais da região. Seis pessoas foram ouvidas: o pai, o motorista Jorge Bonfim, 64 anos; dois PMs e três testemunhas.

>>Leia o depoimento de Leo Feijó, produtor cultural e dono do Teatro Odisseia

“Meu irmão queria juntar dinheiro para a pagar a faculdade. Não acreditei quando um vizinho me avisou que ele tinha morrido. Alguém viu na internet. A gente não achou estranho ele demorar a chegar porque ele disse que iria dormir na casa de um colega”, contou, aos prantos, Caio, irmão gêmeo de Conrado, no IML.

Neste domingo à tarde, ao contrário dos demais dias, duas viaturas estavam paradas próximo ao posto policial da Avenida Chile. A PM informou que, no momento do crime, dois policiais estavam na cabine. A corporação não informou quantos PMs fazem patrulhamento na região, mas disse que o 5º BPM faz rondas e nos fins de semana recebe reforço dos batalhões em Áreas Turísticas e do Choque.

Típico jovem carioca, Conrado gostava de malhar e se divertir com amigosReprodução Internet

Assaltos a pedestres cresceram 46,5% em três meses

Episódios de violência no Centro, Lapa e seu entorno não são uma novidade. Entre os meses de junho e agosto, o número de assaltos a pedestres aumentou 46,5% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
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No final de outubro, um grupo de mais de 30 pessoas iniciou roubos em série por volta das 5h, próximo aos Arcos da Lapa. Dois homens foram agredidos durante o arrastão. Alguns frequentadores contaram que não havia policiamento no momento da confusão e que a cabine da PM perto do local estava vazia. No mês passado, 107 pessoas foram detidas na Lapa em uma só noite. Entre elas estavam 57 menores. A operação foi realizada após denúncias de moradores e frequentadores do aumento de roubos na região.
Viciados praticam assaltos e atacam pedestres na Avenida Chile
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Os usuários das linhas de ônibus que fazem ponto final ao longo da Avenida República do Chile, no Centro, se sentem bastante inseguros, seja durante o dia, como à noite. Não é raro os passageiros, enquanto esperam a partida do ônibus, presenciarem assaltos e pessoas consumindo crack na via. É o caso do cozinheiro Junivaldo Romeu Correa, de 36 anos.
Morador de Cosmos, na Zona Oeste, ele diariamente deixa o restaurante onde trabalha, em Copacabana, e pega o ônibus da linha 358 (Cosmos-Carioca). “Uma vez vi dois homens roubarem o tablet de uma mulher. A sorte é que um policial à paisana passava na hora e viu, prendendo os dois”, conta ele.
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O despachante Robson Barbosa do Valle, 43 anos, que nos fins de semana tira serviço no ponto final do 358, ressalta que há muitos assaltos e usuários de crack na região. “Por duas vezes, me distraí, e levaram minha mochila, que estava pendurada atrás da nossa cabine. Infelizmente, o policiamento deixa a desejar”, destaca Robson.