Por thiago.antunes
Rio - A 300 metros de uma cabine da Polícia Militar, terminaram os sonhos de Conrado Chaves da Paz, 19 anos. Era por volta das 5h30 deste domingo quando ele teria sido abordado por um grupo de usuários de crack, na Avenida República do Chile, perto do número 500, no Centro. Morador de Realengo, ex-aluno do tradicional Colégio Pedro II, ele foi morto com uma facada no coração. A suspeita é que ele tenha sido morto por causa de um celular, que desapareceu. No bolso, havia a carteira de identidade, R$ 50 e cartão de crédito.
Amparado por um amigo%2C Caio%2C irmão gêmeo de Conrado%2C disse que ele dormiria na casa de um colega%2C mas resolveu voltar de ônibusFabio Gonçalves / Agência O Dia

O jovem tinha ido ao Teatro Odisseia, na Lapa, com um grupo de 15 colegas. Eles foram comemorar aniversário de um amigo e se despedir de Conrado, que trocaria de emprego. O rapaz tinha deixado a loja Taco, do Norte Shopping, e começaria esta semana na Redley, em Madureira. Na volta, sete amigos se dividiram em dois táxis e, como Conrado era o único que morava longe, ficaria caro para voltar para casa. Por isso, ele resolveu pegar um ônibus.

A arma usada para matar o rapaz, segundo o delegado Clemente Braune, da Divisão de Homicídios, foi “uma faquinha serrilhada usada para cortar pão”. A lâmina tem 12 centímetros. A polícia suspeita que Conrado estava lanchando quando foi abordado. Ao lado do corpo, foi encontrado um cachorro-quente pela metade. “A gente acredita que, pela localização, foram mesmo usuários de crack”, disse o delegado, que já solicitou imagens das câmeras de monitoramento de prédios comerciais da região. Seis pessoas foram ouvidas: o pai, o motorista Jorge Bonfim, 64 anos; dois PMs e três testemunhas.

Faca usada em crime serve para cortar pão%2C segundo polícia. Jovem foi atingido no coraçãoPaulo Araújo / Agência O Dia

“Meu irmão queria juntar dinheiro para a pagar a faculdade. Não acreditei quando um vizinho me avisou que ele tinha morrido. Alguém viu na internet. A gente não achou estranho ele demorar a chegar porque ele disse que iria dormir na casa de um colega”, contou, aos prantos, Caio, irmão gêmeo de Conrado, no IML.

Típico jovem carioca, Conrado gostava de malhar e se divertir com amigosReprodução Internet

Neste domingo à tarde, ao contrário dos demais dias, duas viaturas estavam paradas próximo ao posto policial da Avenida Chile. A PM informou que, no momento do crime, dois policiais estavam na cabine. A corporação não informou quantos PMs fazem patrulhamento na região, mas disse que o 5º BPM faz rondas e nos fins de semana recebe reforço dos batalhões em Áreas Turísticas e do Choque.

Conrado tinha bebido apenas três cervejas

Conrado era o típico jovem carioca. Malhava todos os dias, saía com frequência e tinha muitos amigos. Vaidoso, bebia pouco. Sua comanda no Teatro Odisseia tinha o consumo de apenas três cervejas. Estava em dúvida entre cursar Nutrição e Educação Física e pretendia fazer um curso de mergulho. 

O pai, Jorge Bonfim, disse que ele ficou de mandar uma mensagem quando chegasse na casa do amigo onde iria dormir. “Não entendi porque ele ficou sozinho. Onde estavam os amigos? Ele deve ter se assustado quando foi rendido. Não acho que enfrentaria ninguém”.

>>Leia o depoimento de Leo Feijó, produtor cultural e dono do Teatro Odisseia

Assaltos a pedestres cresceram 46,5% em três meses
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Episódios de violência no Centro, Lapa e seu entorno não são uma novidade. Entre os meses de junho e agosto, o número de assaltos a pedestres aumentou 46,5% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
No final de outubro, um grupo de mais de 30 pessoas iniciou roubos em série por volta das 5h, próximo aos Arcos da Lapa. Dois homens foram agredidos durante o arrastão. Alguns frequentadores contaram que não havia policiamento no momento da confusão e que a cabine da PM perto do local estava vazia. No mês passado, 107 pessoas foram detidas na Lapa em uma só noite. Entre elas estavam 57 menores. A operação foi realizada após denúncias de moradores e frequentadores do aumento de roubos na região.
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Viciados praticam assaltos e atacam pedestres na Avenida Chile, de dia e à noite
Os usuários das linhas de ônibus que fazem ponto final ao longo da Avenida República do Chile, no Centro, se sentem bastante inseguros, seja durante o dia, como à noite. Não é raro os passageiros, enquanto esperam a partida do ônibus, presenciarem assaltos e pessoas consumindo crack na via. É o caso do cozinheiro Junivaldo Romeu Correa, de 36 anos.
Sob viaduto da Av. Chile%2C consumidores de crack agem livrementeFabio Gonçalves / Agência O Dia

Morador de Cosmos, na Zona Oeste, ele diariamente deixa o restaurante onde trabalha, em Copacabana, e pega o ônibus da linha 358 (Cosmos-Carioca). “Uma vez vi dois homens roubarem o tablet de uma mulher. A sorte é que um policial à paisana pasava na hora e viu, prendendo os dois”, conta ele. 

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O despachante Robson Barbosa do Valle, 43 anos, que nos fins de semana tira serviço no ponto final do 358, ressalta que há muitos assaltos e usuários de crack na região. “Por duas vezes, me distraí, e levaram minha mochila, que estava pendurada atrás da nossa cabine. Infelizmente, o policiamento deixa a desejar”, destaca Robson.
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