Por thiago.antunes
Rio - O presidente da Câmara de Vereadores do Rio, Jorge Felippe, recebeu O DIA numa sala que já entrou para a história. No local onde ficou encurralado junto com assessores por mais de duas horas, em outubro passado, durante a ocupação da casa por manifestantes, o vereador passou o ano de 2013 a limpo e falou sobre o aprendizado proporcionado pela onda de protestos que parou o país.
Curiosamente, Jorge Felippe convidou o carioca a frequentar mais a Câmara no ano que vem e a participar mais ativamente do processo político municipal e diz que espera um ano de guerra política entre o seu PMDB e o aliado PT pela sucessão do governador Sérgio Cabral.
Publicidade
O DIA: Foi o ano mais complicado de seus 36 anos de vida pública?
Jorge Felippe: Sem dúvida alguma. A Câmara já enfrentou várias crises e protestos, mas este ano o Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) queria impedir o funcionamento de um poder constituído e isso é intolerável, bem como ‘black bloc’ querer colocar fogo num prédio histórico. A forma como se deu o protesto não dignifica o magistério, até porque a gente sabe que 80% das pessoas que entraram aqui não são nem professores. Mas hoje o momento é mais tranquilo. Votamos na semana passada a criação do Parque do Marapendi, maior que o Aterro do Flamengo, e com custo zero para a prefeitura.
Publicidade
Sim, mas sob duras acusações da oposição que acusa a lei que cria o parque de beneficiar a especulação imobiliária na Barra e no Recreio com o aumento do gabarito na região, além de ter sido votada às pressas.
Não é verdadeiro. Isso é uma argumentação leviana e inconsequente. A lei de 2005 já estabelecia padrão urbanístico para a área onde será o parque. Em alguns trechos, o proprietário já poderia construir prédio numa área de até 30% do terreno. Agora não pode mais.
'Venha%2C grite e se manifeste'%2C pede presidente da Câmara MunicipalMaíra Coelho / Agência O Dia

Mas por que a lei foi votada às pressas, no apagar da luzes de 2013?

Publicidade
Porque os vereadores não concordaram com o projeto anterior, que precisava ser revisto e foi. Por isso sou a favor do diálogo.
Que os professores dizem não ter havido.
Publicidade
A primeira pedida do Sepe daria uma remuneração de R$ 132 mil por mês para o professor com 30 anos de magistério. Nem a presidenta Dilma ganha isso. Iria quebrar a prefeitura. Depois, o Sepe queria o teto, o mesmo salário da Dilma e dos ministros do Supremo. Não dá para negociar nestas condições. Então, cada vereador conversou com professores de suas áreas e chegamos a um plano de cargos com 32 emendas. O Sepe não concordou porque investia na discordância.
A prefeitura tem que colocar todas as escolas da rede em turno integral até 2020. Em que pé está?
Publicidade
Ainda não atingiu o percentual de migrar 10% a cada ano, mas caminha para isso. O projeto do Brizola agora é lei, seja qual for o prefeito. Isso será um legado para a cidade, que o Rio custou a entender. Foram sete anos lutando, até convencermos o Paes. Somos um exemplo para o país. Faremos uma revolução na educação.
Em sua avaliação, porque as manifestações se concentraram na Câmara e não na Alerj, já que o estado jamais negociou?
Publicidade
As pessoas entendem como fragilidade quando o homem público se dispõe a negociar. O Eduardo (Paes) negociou. O Sérgio (Cabral) preferiu analisar alternativas. O Sepe achou que seria mais fácil conquistar alguma coisa aqui e, depois, levar isso para o estado.
E a CPI dos Ônibus? Não foi um desgaste desnecessário formar uma comissão por vereadores que não queriam a implantação da CPI?
Publicidade
Para fazer como a oposição queria, só mudando a legislação. A CPI cumpre ritos determinados pela Constituição e a oposição sabia disso, tanto que havia outras 33 comissões integradas por parlamentares da oposição, sem contar o PT, porque o PT é governo, não se esqueçam disso.
E qual foi a grande lição a se aprender deste ano de protestos?
Publicidade
Acho que a política nunca mais será a mesma depois de 2013. E os parlamentos estavam mesmo distantes da população. As manifestações de junho e julho, não as de agosto e setembro, eram silenciosas, mas duras. Imagine uma Presidente Vargas tomada com um único grito, de “vem pra rua, vem”, mostrando que os políticos deveriam olhar para eles com outros olhos e que o nosso papel é outro. Claro que os políticos entenderam o recado. Tanto que deram respostas rápidas: a redução das passagens, o fim da PEC 37 e da Cura Gay. Já as manifestações de agosto e setembro tiraram o povo das ruas por causa da violência.
E o que esperar da Câmara em 2014?
Publicidade
Vamos estimular a participação da população dentro do legislativo e a contribuição para a melhora da qualidade das leis.
O presidente da Câmara vai convidar a população para ocupá-la? É isso?
Publicidade
É nosso objetivo permanente. O povo tem sempre que estar aqui. Venha, grite, participe, manifeste sua opinião. Para isso temos galerias. A Câmara não se humilha quando é vaiada e nem se engrandece quando é aplaudida. Nosso papel é de mediadores da sociedade.
Deixa ver se eu entendi bem: o carioca pode vir à Câmara gritar e xingar os vereadores desde que não toque fogo na Casa?
Publicidade
Deve. Aliás, xingar também não pode (risos). Mas vaiar pode. A vida é assim, entre vaias e aplausos.
Publicidade