Na Estrada da Posse, em Campo Grande, manifestantes revoltados com a falta de energia, que já dura quatro dias, atearam fogo em um ônibus e um carro e danificaram um radar da prefeitura. Pneus, lixo e madeira também foram incendiados. A PM foi ao local e precisou do apoio do Batalhão de Choque para conter os manifestantes. A luz só foi restabelecida cinco horas depois.
Nas estradas do Mato Alto e da Cachamorra, em Guaratiba, e na Estrada do Magarça, em Santa Cruz, moradores também bloquearam o entroncamento das duas vias para protestar pela falta de energia. Não muito distante dali, no bairro Vila Nova, também em Campo Grande, as reclamações dos moradores são semelhantes. Segundo contam, esse é o segundo verão em que passam pelo mesmo transtorno, sem solução.
A Light admitiu o problema em Campo Grande, mas informou que o ramal que abastece o bairro não tem relação com o que alimenta Realengo e o hospital. Em nota, a empresa informou ainda que “restabeleceu totalmente o fornecimento de energia para trechos interrompidos na Estrada da Posse, após reparo em cabo de energia danificado por sobrecarga, decorrente de ligações clandestinas.”
Doente sofre sem energia, apesar de pagar conta alta
Moradora de Campo Grande há mais de 20 anos, a dona de casa Dilma de Oliveira, de 70, cuida do marido, de 85, que há dois anos vive em cima de uma cama. José Maria Souza, que não se locomove e não fala, utiliza uma cama pneumática movida a eletricidade e necessita do ar condicionado para refrigerar o ambiente e ajudar a evitar escaras no corpo.
Para garantir esses cuidados especiais, Dilma chega a pagar R$ 450 por mês de conta de luz, mas, como ela conta, o serviço não é bem prestado. “Antes eu pagava menos de R$ 100. Preciso de energia porque a cama precisa estar ligada. Sem isso o sangue para de circular em certas partes do corpo. Dependo de energia para tudo, até mesmo para alimentá-lo. A comida é dada por sonda de três em três horas e tudo precisa ser processado no liquidificador”, contou.
CAUANE NASCEU NO ESCURO E PRESA NO ELEVADOR
Cauane tem apenas um dia de nascida e já chegou ao mundo vítima de um dos muitos problemas que assolam a Zona Oeste: a falta de luz. Devido ao apagão na madrugada de ontem, a menina nasceu dentro do elevador do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, quando a mãe, Daiana Paula da Silva, de 24 anos, subia para a maternidade no sexto andar.
Em trabalho de parto, Daiana ficou mais de 20 minutos presa no elevador, que parou no quarto andar. Ela teve ajuda de uma enfermeira que a acompanhava. No local, havia também um maqueiro. O parto aconteceu no escuro, por volta das 3h, e, após dar à luz, Daiana contou que ainda ficou presa por mais 20 minutos.
Ela havia saído de casa, em Realengo, sozinha, para o hospital, depois que a bolsa estourou e já com as dores do parto. “Por sorte, tinha uma enfermeira comigo. Ela tirou o jaleco, colocou no chão, eu deitei e minha filha nasceu. Tudo isso no escuro. Ela já estava nascendo. Não dava para esperar. Fiquei muito nervosa. As pessoas do lado de fora falavam para eu me acalmar, mas eu não conseguia. Fiquei gritando socorro. Minha filha estava respirando com dificuldade. Fiquei com medo de ela morrer ali”, lembrou a mãe.
Light e estado divergem
A Light e a Secretaria Estadual de Saúde não se entenderam sobre a falta de luz no Albert Schweitzer. Enquanto o estado informou que o problema foi causado por falha da concessionária, por volta das 2h, a Light disse, em nota, que não houve interrupção no fornecimento ao hospital, da noite de quarta até a tarde de quinta.