Polícia diz que número de mortos por desabamento de prédios há dois anos pode ser maior
Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - O número de mortos pelo desabamento do Edifício Liberdade, no Centro, pode ser maior, afirmou a Polícia Civil. Ontem, a tragédia na Rua 13 de Maio completou dois anos. Vinte andares do prédio vieram abaixo, provocando a queda de duas construções vizinhas. Na época, os números mostravam que 17 vítimas fatais foram identificadas, e uma, enterrada como indigente. Havia cinco desaparecidos.
A Polícia Civil esclarece que o Instituto Médico-Legal guarda nove amostras de DNA diferentes, e esse material genético não é compatível com a das vítimas identificadas, nem com o de parentes que estiveram no local procurando parentes.
Vera Fernandes acha que pode não ter enterrado o corpo do filhoJoão Laet / Agência O Dia
O número de mortes pode aumentar, e alguns familiares podem ter respostas que procuram, como é o caso de Vera Lúcia Fernandes, de 61 anos, e Antônio Evangelista, de 81. Pais de Bruno Gitahi, uma das vítimas, eles acreditam que enterraram o cadáver errado.
“Foi uma série de erros. Estou há dois anos vivendo com essa dúvida. Eu enterrei o corpo que eles me deram, mas ele era muito diferente do cadáver que gerou a certidão de óbito. Eu tenho vários documentos que podem provar isso”, afirmou ela.
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Vera Lúcia acredita que o filho ainda estava vivo depois do desabamento dos prédios, mas, segundo ela, a forma como a busca por vítimas foi feita teria matado o rapaz. “Vi um laudo que prova que o meu filho morreu entre 48 e 72 horas depois do desabamento. Infelizmente, eu não consegui uma cópia dessa prova, pois seria uma coisa que ninguém poderia contestar”, afirma.
Ela lembra as dificuldades que teve na hora de reconhecer o corpo do filho. “Fiquei sabendo que o corpo do meu filho estava no IML desde o dia 28 de janeiro, mas eu só consegui vê-lo no dia 16 de fevereiro. Isso porque eu fui lá com uma advogada, porque dois dias antes eles me impediram de reconhecer o corpo dele. Onde já se viu alguém impedir uma mãe de ver o corpo do próprio filho?”
Vidas sob escombros em 2012André Luiz Mello / Agência O Dia
Em nota, a Polícia Civil afirmou que na época da tragédia 20 partes de corpos deram entrada no IML. Elas foram encaminhadas para o Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética Forense, onde foi realizado exame de DNA com 21 amostras de familiares. Seis amostras foram positivas e nove deram negativo para a amostra coletada dos familiares. O material genético desses últimos foram incluídos no banco de DNA do laboratório, permitindo futuras análises.
Piscina de casa, triste lembrança
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?Vera Lúcia mantém o quarto do filho morto — que tinha 25 anos e era formado em Sistema da Informação — da mesma maneira que ele deixou, quando saiu de casa no dia 25 de janeiro de 2012.
“É a forma que eu tenho de manter o Bruno perto de mim. Às vezes, coloco o tênis que ele usava para me lembrar de como seria se ele estivesse com eles. As roupas ainda têm o cheirinho dele”, conta a mãe, emocionada. Outra lembrança que ela tem do filho é na piscina de casa. “Ele passou a adolescência nessa piscina. Era o que ele mais gostava aqui em casa. Quando ele morreu, doía muito ver essa piscina. Eu tive que comprar um caminhão de terra e jogar nela. Só sobraram as bordas”, afirmou ela, que luta na Justiça pela exumação do corpo que enterrou.
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O inquérito da Polícia Civil sobre o caso apontou que obra da empresa T.O no 9º andar do Edifício Liberdade causou o desabamento. O sócio majoritário Sérgio Alves e a administradora de obras Cristiane do Carmo Azevedo são réus, mas dizem que a estrutura do prédio já havia sido modificada antes.
Nenhuma indenização também foi paga. Nova audiência do processo deve acontecer na 31ª Vara Criminal dia 30.