Mais fiscalização no Rio após a tragédia em Santa Maria
Muitas boates, cinemas, casas de shows e de festas já tiveram que se adequar
Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - A tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), na qual 242 pessoas morreram confinadas entre chamas e fumaça em 27 de janeiro do ano passado, abriu uma chaga em todo o país e foi um dos fatores que fizeram acender a luz vermelha no Corpo de Bombeiros do Rio. Em 2013, as fiscalizações em edificações aumentaram 1.000% em relação a 2012, incluindo na lista boates, cinemas, casas de show e de festas infantis. Foram 10.727 vistorias em 2013, contra as parcas 1.725 em 2012.
Ainda nas fiscalizações em 2013, os técnicos encontraram irregularidades em 7.509 estabelecimentos e fecharam 391 deles. Pelo menos 7.509 tiveram que passar por algumas adaptações. Em apenas três dias de uma operação específica em cinemas, boates e casas de show e de festas infantis, realizada em janeiro de 2014, bombeiros e Procon-RJ vistoriaram 68 estabelecimentos, dos quais 17 acabaram fechados, outros sete interditados parcialmente e 44 autuados.
Este mês%2C fiscais do Procon-RJ e bombeiros fecharam a recém-criada Ritmos da Lapa. Mesmo sem o alvará e ainda terminando as obras%2C os donos abriram as portas ao públicoEstefan Radovicz / Agência O Dia
Na Kiss, entre as inúmeras irregularidades constatadas posteriormente, não havia saídas de emergência e a única porta que servia para entrada e saída do público estava parcialmente bloqueada por currais montados para organizar as filas de frequentadores. No Rio, os principais problemas também estavam relacionados com as saídas — falta de placas de sinalização, portas de emergência consideradas estreitas e falta de barra antipânico. Uma das casas de show interditadas em janeiro deste ano foi a recém-criada Ritmos da Lapa, na Rua Riachuelo. Mesmo sem o alvará e ainda terminando as obras, os donos abriram as portas ao público.
“Em poucos dias fizemos as adequações, que consistiam em instalar mais placas indicativas da saída de emergência. Já estamos com o alvará de funcionamento”, conta o gerente Eduardo Mendonça.
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Os números impressionam porque, mesmo com a tragédia de Santa Maria, ainda havia donos de boates que não adequaram seus estabelecimentos às normas de segurança. Pior: as pessoas continuaram a frequentá-los, a despeito dos riscos que corriam.
“A gente só vai. Ninguém procura saber se tem saída de emergência ou não. Eu e meus amigos nunca tentamos saber”, confirma a estudante Milleny da Silva Teles Barreto, 22 anos, que mora em Santo Cristo e costuma badalar em casas noturnas.
Na Kiss%2C não havia saídas de emergência e a única porta de entrada e saída do público estava bloqueada Deivid Dutra / Jornal A Razão / Agência O Dia
Homenagens aos 242 mortos no Sul
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?Fitas brancas nas roupas dos moradores e nos veículos, nas janelas das casas e nos comércios. Essa foi a primeira homenagem às 242 vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que completa um ano amanhã.
A campanha foi batizada de Santa Maria Floresce e começou na sexta-feira. Ontem e hoje, a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria promove o congresso ‘Novos Caminhos — A vida em transformação’, no Centro Universitário Franciscano, com debates, palestras e mesas redondas.
Uma caminhada e um ato de protesto na madrugada do dia 27 marcarão o momento do incêndio. Ainda na segunda, um ato ecumênico será realizado na Praça Saldanha Marinho, a partir das 20h, com um instrumento repetindo 242 batidas para lembrar as vítimas.
Um ginásio foi usado por parentes das vítimas para velar corpos de jovens vítimas da tragédia na boate. A cena foi uma das mais chocantes da história do Rio GrandeErnesto Carriço / Agência O Dia
Até agora, oito foram denunciados
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?O Ministério Público do Rio Grande do Sul denunciou oito pessoas pela tragédia na boate Kiss: quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e quatro por fraude e falso testemunho.
O MP atribuiu a responsabilidade direta pelas mortes a dois sócios da Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e a dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.
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O major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze foram denunciados por fraude processual. Por falso testemunho, a promotoria denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador da boate, Volmir Astor Panzer.
Já o inquérito da Brigada Militar, que também apurou as circunstâncias do incêndio, indiciou oito bombeiros. Entre eles, o tenente-coronel Moisés da Silva Fuchs, que era o comandante-regional. O caso foi para a Justiça Militar. Nenhum dos bombeiros foi responsabilizado diretamente pelo incêndio que provocou as mortes.