Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Um dos mais importantes acervos culturais do Rio, que ajuda a contar a história do Carnaval e da música carioca de diversos estilos, especialmente samba, será colocado à disposição do público em breve. Milhares de fotos, filmes, discos, recortes de jornais, bibliografia e documentos pessoais do produtor cultural Albino Pinheiro, o ‘general da banda’, como era conhecido, por ter sido o principal fundador da famosa Banda de Ipanema em 1965, estão sendo inventariados e catalogados pelo Instituto Rio Scenarium.
Os diretores do instituto, Plínio Fróes e Nelson Torzecki, contam que o rico material foi encontrado por acaso em 2000, um ano depois de Albino ter morrido, vítima de câncer na medula. “Procurávamos um apartamento e, ao visitar um imóvel no Centro, que nem sabíamos que tinha pertencido a Albino, vimos o material empilhado no chão, prestes a ir para o lixo. Compramos tudo. Hoje o acervo é tombado pelo patrimônio cultural do município, que também patrocinou sua recuperação (no valor de R$ 180 mil), com apoio da Cervejaria Bohemia”, ressalta Plínio Fróes.
Estudioso do samba e outros ritmos%2C o produtor ajudou a criar a Banda de Ipanema e revelou grandes talentos da MPB a partir dos anos 70Márcio Mercante / Agência O Dia

Nelson Torzecki conta que o instituto contratou uma equipe de documentaristas, historiadores e especialistas em conservação e arquivologia para salvar de fungos e deterioração natural toda a coleção, que inclui, por exemplo, mais de cinco mil fotos, 58 fitas cassetes e 82 rolos de filmes de 8, 12 e 16 milímetros. “Agora, dependemos de um espaço físico que possa abrigar o acervo parapesquisas.”

Entre as raridades recuperadas estão cartazes, folders e panfletos referentes a uma das principais iniciativas de Albino, que revelou, a partir de 1976, grandes nomes da MPB: o Projeto Seis e Meia, referência nacional no meio artístico por três décadas, com apresentações diárias e a preços populares, de segunda a sexta-feira, no Teatro João Caetano, no Centro.
“Assim como a Banda de Ipanema resgatou o Carnaval de rua, o Seis e Meia oferecia aos trabalhadores, antes da volta para a casa, música de qualidade, mesclando artistas consagrados com novos talentos”, lembra Cláudio Pinheiro, irmão de Albino e hoje presidente da Banda de Ipanema.

Além do João Caetano, teatros como Dulcina, Villa Lobos e Carlos Gomes eram palcos de apresentações de estrelas como João Bosco, Clementina de Jesus, João Nogueira, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara, Luis Melodia, Sivuca, Zé Ramalho, Beth Carvalho, Gonzaguinha, Luis Gonzaga, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Bezerra da Silva, Dicró, Rafael Rabello, Belchior, Jamelão,Elymar Santos, Moreira da Silva, Sandra de Sá, Martinho da Vila e Tim Maia.

Plínio Fróes e Nelson Torzecki estão à frente da recuperação do acervoMárcio Mercante / Agência O Dia

Nascido em 1933, Albino, cervejeiro assumido, que tinha fama de namorador e deixou uma filha (Paulo Pinheiro), formou-se em Direito e foi servidor público. Requisitado comentarista carnavalesco na TV, ele transitava em todas as camadas sociais. De bares ‘pés-sujos’ a gabinetes de políticos.

Agitador de muitas festas

Publicidade
?Plínio Fróes lembra que Albino Pinheiro tinha uma capacidade invejável para agitar a cidade culturalmente. “Foi ele que resgatou a tradicional Festa da Penha e, incansável, criou concursos e festivais de músicas memoráveis, e de fantasias, até na praia, e noites de serestas”, destaca.
Segundo Fróes, o próximo objetivo de seu Instituto Rio Scenarium é digitalizar o acervo. “Assim ele poderá ser vastamente consultado e seu conteúdo multiplicado”, justifica o empresário. Atualmente, o sistema de informática do instituto permite apenas a localização dos objetos que fazem parte do acervo.
Publicidade
Ainda segundo Plínio, assim que o instituto conseguir espaço físico para as consultas públicas, também serão exibidos, em antigos projetores, filmes mostrando bailes e carnavais de rua de quatro décadas atrás, festas e festivais promovidos por Albino. O instituto conseguiu recuperar até documentos escolares de Albino, que estudou no Liceu Franco Brasileiro.
Publicidade