Por thiago.antunes
Rio - Para o especialista em segurança no trânsito do Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi Brasil), Alessandro Rúbio, não é possível comprovar que o uso do celular pelo caminhoneiro tenha sido a causa do acidente, mas pode ter contribuído para isso.
Segundo Rúbio, utilizar o telefone na direção dobra o risco de acidentes. Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso do celular é a principal distração no trânsito e aumenta em até 400% os riscos de acidente.
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“O motorista precisa estar atento ao trânsito e lembrar que o veículo é conduzido por ele e não por uma terceira pessoa. Então, qualquer tipo de distração é perigosa”, diz Rúbio. De acordo com o especialista, só de tocar no aparelho o motorista perde a atenção motora. Ao olhar a tela, tem distração visual e, quando conversa, desvia o foco da pista para o assunto.
Passarela sobre a Linha Amarela foi desmontada e retirada da via por guindastes%3A a liberação total do tráfego só aconteceu por volta de 18h30%2C mais de nove horas depoisFabio Gonçalves / Agência O Dia

“Um segundo de distração, para quem dirige a 80 km por hora, equivale a 22 metros percorridos sem olhar para a pista”, afirma. O caminhoneiro confessou estar a 85 km/hora. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e o Ministério da Saúde criaram um aplicativo gratuito, compatível com celulares Android, que não permite que motoristas atendam o celular dirigindo.

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O “Mãos no Volate” manda uma mensagem automática para quem liga, avisando que o motorista não pode atender. O texto pode ser personalizado, com o tempo de chegada no destino e até o barulho de mensagem é silenciado. As ligações ficam gravadas para ver no final da viagem. 

Segundo a assessoria de imprensa do Denatran, desde o início de 2012, quando foi criado, cerca de 50 mil pessoas já baixaram o aplicativo. Porém, ele não é de uso obrigatório pelos motoristas que prestam serviço ao governo.

Passarela na Linha Amarela após acidenteThiago Lara / Agência O Dia

98 mil multas pela infração

Segundo o Departamento de Trânsito do Rio (Detran), no ano passado, 98 mil pessoas foram multadas no estado por dirigirem usando o celular. Na capital, foram registradas 51 mil infrações. Em 2012, foram 104.784 os multados no estado, e 62.657 na capital. Segundo o órgão, no ano passado, o uso de celular esteve entre as dez maiores incidências de infrações no trânsito.

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro, dirigir falando ao aparelho celular implica multa média, de R$ 85,13, e soma 4 pontos na Carteira Nacional de Habilitação do infrator, assim como conduzi-lo utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular. Segundo o Detran, falar no celular é tão arriscado quanto dirigir alcoolizado.

Motorista admite ter usado celular, diz delegado

O motorista do caminhão admitiu, na tarde desta quarta-feira, estar falando no celular desde o momento em que entrou na Linha Amarela, segundo o delegado da 44ª DP (Inhaúma), Fábio Asty. "O condutor afirmou que estava falando com um colega de trabalho, que segundo ele, teve o filho desaparecido nos últimos dias", disse o delegado. O aparelho celular já foi recolhido para perícia.

O delegado também relatou que Luiz Fernando, de 30 anos, garantiu que não viu a caçamba levantada e de acordo com Asty, ele reagiu com surpresa ao saber das cinco mortes por conta da tragédia na via. Apesar do depoimento, a delegacia ainda não descarta a possibilidade de ele ter içado a caçamba pra tampar a placa e escapar de uma possível multa.

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De acordo com o delegado, a caixa de marcha do veículo foi consertada na última semana e o caminhão voltou a circular na segunda-feira. O mecânico que fez o conserto também será chamado para prestar depoimento, assim como o funcionário que dirigiu o caminhão no dia anterior ao acidente, o colega de trabalho que falava com Luiz Fernando pelo celular e o gerente operacional da empresa responsável pelo caminhão.
A polícia vai solicitar uma perícia complementar para apurar se esse defeito na caixa de marcha pode ter afetado a bomba hidráulica do veículo, que é responsável por içar a caçamba. A caixa de marcha caiu na sexta-feira.
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'Todo bom profissional perceberia uma caçamba aberta' diz testemunha

O motorista de ônibus Antônio Carlos da Silva Thimótheo, de 42 anos, que dirigia a linha 315 da Empresa Real Auto-ônibus e presenciou a tragédia na Linha Amarela, prestou depoimento na 44ª DP (Inhaúma) nesta quarta-feira sobre o acidente. Por volta das 9h da manhã desta terça, o condutor viu o momento em que a caçamba do caminhão da empresa Arco da Aliança atingiu a passarela da via e a derrubou, causando a morte de cinco pessoas e deixando outras cinco feridas.

Antônio Carlos da Silva Thimótheo presenciou toda a tragédia na Linha AmarelaFabio Gonçalves / Agência O Dia

De acordo com o delegado, ele negou ter emparelhado com o motorista do caminhão Fernando da Costa, de 30, e também afirmou que não viu o condutor falando no celular. Ele alega que tentou acelerar para alcançar o veículo e avisar o motorista sobre a caçamba, mas, devido à velocidade do caminhão, Antônio não conseguiu.

"Vi o motorista passar com a caçamba semi-aberta por três passarelas, mas quando vi que a caçamba estava toda aberta e iria colidir na passarela, parei há uns 100 metros de distância e presenciei toda a tragédia. Tudo que estou dizendo pode ser comprovado pelas câmeras ao longo da via", disse ele.

Após o enterro do taxista Alexandre%2C no Cemitério de Inhaúma%2C colegas de trabalho protestaram na viaSeverino Silva / Agência O Dia

O motorista de ônibus trabalha há quatro anos na área e já foi motorista de caminhão. Ao ser questionado se Fernando não poderia ter percebido a caçamba aberta, ele disse. "Acredito que todo bom profissional perceberia uma caçamba aberta", afirmou o motorista do ônibus.

Fábio Asty ouvirá ainda as vítimas sobreviventes do acidente. De acordo com o delegado, em uma conversa informal, o motorista do caminhão disse que entrou na Linha Amarela por conta própria, mesmo sendo em horário proibido.

Corpos de vítimas foram enterrados
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Quatro vítimas fatais da tragédia na Linha Amarela foram enterradas na tarde desta quarta-feira em dois locais distintos do Rio. Adriano Pontes de Oliveira, Célia Maria e o taxista Alexandre Gonçalves de Almeida foram enterrados no Cemitério de Inhaúma, por volta de 13h. Já Renato Pereira Soares, motorista do Palio que foi atingido foi enterrado no Cemitério do Maruí, em Niterói, na Região Metropolitana.

Protesto

Depois do enterro de Alexandre Almeida, o taxista morto na manhã desta terça-feira na tragédia da Linha Amarela, amigos, parentes e motoristas do "Movimento Táxi" foram até a via para realizar orações em solidariedade à vítima. A Linha Amarela chegou a ter alguns pontos da pista sentido Barra interditados, mas já está completamente liberada.
Familiares%2C amigos e taxistas fizeram um ato em solidariedade às vítimas da tragédia da Linha AmarelaSeverino Silva / Agência O Dia

Moradores da comunidade Águia de Ouro, próxima à via, atiraram pedras nos veículos, danificando um carro de reportagem do DIA . As pessoas que participavam da passeata já chegaram ao prédio da Lamsa, concessionária que adiministra a Linha Amarela.

Estado de saúde dos feridos

A vitima Liliane de Souza Rangel, 33 anos, foi transferida do Hospital Municipal Souza Aguiar para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI), do Hospital Pasteur, no Méier, na Zona Norte. Após realização de diversos exames, foi descartada a fratura de fêmur e evidenciou-se uma fratura, sem gravidade, na vértebra da coluna lombar e uma lesão complexa na bacia com indicação cirúrgica. A paciente está em observação pela equipe médica e ainda não há previsão para realização do procedimento.

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Gláucia Andrade, de 56 anos, e Jairo Venatti, de 44 anos, estão nos hospitais Estadual Alberto Torres e Federal de Bonsucesso, respectivamente. Imagens de câmeras de segurança da via estão sendo analisadas. A polícia também aguarda resultado dos laudos periciais.
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