Por thiago.antunes

Rio - Uma adolescente começou a ajudar a polícia a fazer o retrato falado do suspeito de ter assassinado a estudante Francisca Gleiciane Oliveira da Silva, de 18 anos, encontrada morta anteontem, e um bar na Rocinha, em São Conrado. Junto com uma responsável, ela foi levada por agentes da Divisão de Homicídios (DH) do Cemitério São João Batista, em Botafogo, onde a vítima foi enterrada.

A garota disse a amigos que conhece o suspeito, identificado como Maurício, e seus familiares. Segundo testemunhas, ele era visto usando boné e óculos escuros. O corpo de Gleice, como era conhecida, foi encontrado nu e amarrado com as próprias roupas no banheiro de um bar numa localidade conhecida como Cachopa, alugado pelo suspeito há apenas um mês. Um laudo do IML no corpo dela apontou sinais de violência sexual e constatou morte por asfixia.

Amigos e familiares da jovem morta na Rocinha fazem manifestação na passarela da Autoestrada Lagoa-BarraAndré Mourão / Agência O Dia

O garçom Francisco Alves de Almeida, de 52 anos, disse ter entrado na casa do suspeito na terça-feira, um dia depois do desaparecimento de Gleice, para abastecer a caixa d’água do imóvel. “Ele estava nervoso e tinha uma mala. Disse que ia viajar para São Paulo”, contou.

Abatido, o cozinheiro Antônio Emanuel Marques da Silva, pai de Gleice, disse ter encontrado o corpo com a polícia ao localizar uma sandália dela em frente ao local onde ela estava morta. Ele planejava uma viagem com a filha em agosto deste ano para Cariré, no interior do Ceará, sua cidade de origem. Ela iria visitar a avó com o filho, de 3 anos. “Espero que a polícia prenda esse monstro. Ele já tinha o plano de matar a minha filha. Isso não é gente. A minha filha não fazia mal a ninguém”, desabafou.

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O filho de Gleice, um menino de 3 anos, ainda não sabe o que aconteceu com a mãe. "Ele pergunta: 'Cadê a minha mãe?'. Nem sei o que falar para ele", disse. O pai de Gleice lembrou do último encontro que teve com a filha, na segunda-feira. "Ela me pediu dinheiro para comprar um lanche. Aí, eu entreguei R$ 50 para ela, em casa. Ela me abraçou e me deu um beijo".

Depois do enterro, na tarde desta quinta, moradores da Rocinha organizaram um protesto. Cerca de 80 pessoas ficaram sobre a passarela da Autoestrada Lagoa-Barra e estenderam quatro banners com a foto de Gleice e uma mensagem: “Somos 200 mil querendo paz e justiça. Gleice, sorriso eterno”. Em seguida, jogaram pétalas sobre a via e pediram por justiça.

A auxiliar administrativa Renata Anselmo, de 27 anos, se emocionou ao fotografar a mensagem pelo celular. "Foi horrível o que aconteceu. A Gleice era um doce de menina", contou.

Amigos e familiares choram a morte de Francisca Gleiciane Oliveira da Silva%2C de 18 anos. Ela estava desaparecida desde a última terça-feiraFoto%3A Carlos Moraes / Agência O Dia

A manifestação seguiu até o começo da noite, quando cerca de 200 moradores bloquearam a via, nos dois sentidos, e rezaram um "Pai Nosso". No começo, houve um desentendimento entre os manifestantes. "A família não quer isso, gente!", argumentou um homem. "Mas a comunidade quer! A gente também está falando pelos nossos filhos", respondeu uma mulher.

Depois, o protesto seguiu até a entrada da 11ª DP (Rocinha), onde os manifestantes pediram pela saída da UPP. "A missão foi cumprida, meu amigo. Fizemos uma manifestação como tinha que ser. Ninguém quebrou nada. Avisa para a sociedade que isso poderia ter acontecido com os filhos deles também, os filhos do asfalto", pediu o locutor Fernandes Júnior, de 32 anos.

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