Por bianca.lobianco

Rio - Para evitar a volta da sujeira espalhada pela passagem dos blocos neste fim de semana — serão 42 — , pelo menos dez deles farão um mutirão para ajudar na limpeza urbana, além de ações para conscientizar os foliões. O Monobloco pretende colocar a mão na massa: vassouras e sacos serão entregues aos 300 integrantes pela própria prefeitura. A ideia é varrer a Avenida Rio Branco ao fim do evento. “Cada um, de sua forma criativa, vai lembrar aos foliões sobre a responsabilidade que têm sobre seu lixo”, disse o secretário de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello. 

Bloco da limpeza: o Monobloco, que faz sua festa amanhã, às 9h, se comprometeu a mobilizar 300 integrantes para varrer a Av. Rio BrancoVitor Silva / Agência O Dia
Bloco da greve: garis percorreram várias ruas da cidade ontem, em ritmo de protesto. Eles decidiram manter a paralisação, que dura oito diasFoto%3A Estefan Radovicz

Segundo a empresária do Monobloco, Maria Clara Ferreira, foi a Riotur que sugeriu a participação dos blocos. Ela disse que a mobilização começou nas redes sociais: “Pedimos que o público leve sacola e não jogue lixo no chão. No desfile, os cantores vão falar sobre isso”, disse: “A ideia de varrer surgiu agora. Vamos tentar. Ficou uma lição para todos nós. Essa quantidade de lixo é nossa.”

Chuva e cerveja

Patrocinadora oficial da folia no Rio, a Antarctica também vai assumir a responsabilidade de parte da limpeza da festa. A empresa contratou 175 pessoas para atuar nos três principais blocos deste fim de semana: Bafafá, Mulheres de Chico e Monobloco. E pretende ainda levar a ação para mais 12 blocos. O anúncio foi feito ontem pelo secretário, após reunião com representantes da Ambev e dos principais blocos. Ele afirma que a cervejaria não tem responsabilidade pelo lixo gerado.

“O patrocinador não tem essa obrigação, ele está colaborando. No domingo, 60 pessoas contratadas pela empresa recolheram 12 toneladas de lixo na Lapa. Agora, serão em três blocos, e isso pode chegar a 12 desfiles”, declarou Antonio Pedro.

A previsão de chuva preocupa ainda mais os cariocas. Segundo o Climatempo, pode chover forte hoje e amanhã. A Comlurb afirmou que os serviços já estão normalizados e a remoção da sujeira chegou a 10 mil toneladas ontem. Irajá, Pedra de Guaratiba, Campo Grande e Ilha do Governador ainda estão prejudicados. Até amanhã, serão utilizados 106 caminhões e 31 retroescavadeiras. 

Vários bairros do Rio estão com montes de lixo acumulados nas calçadas. Muitos impedem a passagem de pedetres. Um dos bairros em pior situação é Rio das Pedras, Jacarepaguá, onde uma praça foi totalmente ocupada por detritos. Comerciantes estão impedidos de abrir as lojas por falta de acesso. Moradores temem a proliferação de animais nocivos e o surgimento de doenças.

Greve entra no oitavo dia

Em assembleia que reuniu 500 garis ontem de manhã, em frente à sede da prefeitura, foi decidido que a greve continua — ela entra no oitavo dia hoje. Uma comissão tentou ser atendida pelo prefeito. Após receberem a informação de que não seriam recebidos, decidiram fazer uma caminhada até a Cinelândia. Lá, ocuparam a escadaria da Câmara dos Vereadores. Depois caminharam até o Ministério Público do Trabalho.

Os grevistas improvisaram uma bateria com caçambas de lixo e parodiaram o samba da Unidos da Tijuca: “Acelera Comlurb, eu quero ver. Esse lixo vai feder. A prefeitura não deu aumento, não. E esse lixo vai ficar todo no chão”.

PMs do Batalhão de Choque acompanharam a manifestação. Segundo a liderança do movimento, 70% da categoria aderiram à paralisação. Para a Comlurb, o percentual é de no máximo 35%.

Vereadora vai pedir fim do Lixo Zero

A vereadora Teresa Bergher (PSDB) disse que na próxima terça-feira entrará com um projeto de lei na Câmara, propondo a revogação da Lei do Lixo Zero. “Se até o prefeito joga lixo no chão e a cidade está um lixo, como multar o cidadão?”. Ela questiona o número de garis nas ruas. “Dos 22 mil funcionários que a Comlurb tem, 14 mil são garis. E os demais?”.

A vereadora diz que a Comlurb “tem dinheiro de sobra” para dar o reajuste pedido pelos garis, baseada numlevantamento das contas da empresa. Pelo estudo, a Comlurb tem um orçamento de R$ 1,5 bilhão para 2014, mas a a previsão de gastos com pessoal é de R$ 635 milhões.

Em nota, a Comlurb alegou que nos últimos cinco anos, os garis obtiveram 50% de ganho real. “Em termos absolutos, o ganho foi de 85% contra 43% do salário mínimo, ou seja, o dobro”, diz o texto, destacando ainda a implementação do plano de cargos e salários e outros benefícios.

Demissão dá direito à ação na Justiça

Garis que forem demitidos pela Comlurb poderão recorrer à Justiça para pedir indenização ou o cancelamento da medida. O advogado trabalhista André Viz diz que, por se tratarem de funcionários concursados para órgão público, é preciso que a companhia abra processo administrativo:

“O procedimento é uma garantia contra perseguições políticas. A demissão é legal, pelo regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), mas o trabalhador precisa ter o direito à defesa”.

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