Por bianca.lobianco

Rio - O juízo da 35ª Vara Criminal da Capital retomou por volta das 14h desta quarta-feira a audiência de instrução e julgamento (AIJ) dos 25 policiais militares acusados de terem torturado e desaparecido com o corpo do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, na Favela da Rocinha, Zona Sul do Rio. A AIJ está sendo realizada na sala da Central de Assessoramento Criminal (CAC), no 4º andar do Fórum Central. Esta foi a quarta audiência, onde 13 testemunhas arroladas pela defesa foram ouvidas. 

O primeiro a depor foi o delegado Ruchester Marreiros. Ele falou sobre a Operação Paz Armada, que foi deflagrada para investigar o tráfico de drogas na Rocinha uma semana antes do sumiço de Amarildo. Após os detalhes da operação, ele afirmou que não participou das investigações do desaparecimento do ajudante de Pedreiro.

A segunda testemunha a depor foi a inspetora Alessandra, da Divisão de Homicídios, que investigou o caso e participou da fase do depoimento de todos os policiais. Segundo ela, os PMs do setor administrativo da UPP atrapalharam as investigações, pois omitiram fatos sobre a presença do Amarildo. Alessandra informou que os policiais usavam um "código de silêncio", a respeito do assunto. 

O policial Newland, que trabalhou na Operação Paz Armada, disse que foi ameaçado e coagido pelo delegado Rivaldo Barbosa, titular da DH, e pelo major Fábio da Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) durante os depoimentos nas duas unidades. "Ele falou que eu tinha que entregar o major Édson porque eles já sabiam de tudo. Se eu não falasse, eles me prenderiam". Newland também acrescentou que durante o depoimento, o delegado e o ofical da PM davam socos na mesa.

Newland é acusado de pagar R$ 350 para uma pessoa dizer que Amarildo foi morto por traficantes. A testemunha admitiu que deu dinheiro para ajudar  uma mulher que passava por dificuldades financeiras e não por conta de suborno. 

Vídeo: Filho de Amarildo faz ameaça a PMs na Rocinha

Um vídeo gravado na comunidade da Rocinha mostra o filho de Amarildo, Emerson Gomes da Silva, de 21 anos, visivelmente alterado. Nas imagens, o jovem diz que "vai morrer polícia", fazendo uma ameaça aos PMs da UPP. Em seguida, ele lembra do sumiço do pai, ocorrido em julho do ano passado, e afirma que caso seja preso, em pouco tempo sairá da cadeia.

Depois da declaração, o filho do ajudante de pedreiro começa a jogar sacos de lixo no meio da rua, onde passava veículos e motos, interrompendo o tráfego. Novamente o jovem se volta para a pessoa que está gravando e faz mais provocações.

"Tá bom pra você? Você quer ser preso por desacato ou quer ir embora?", diz a pessoa que filmava a ação. O jovem responde imediatamente: "Pode me prender por desacato, eu vou voltar", afirma com convicção.

Momentos depois a tela fica preta e vozes são ouvidas. "Tá tudo filmado, babaca! Senta aí, cara. Senta aí! Fica quietinho aí, vai voltar nada!"

Em outro vídeo, após a detenção do jovem, Elizabeth de Souza, viúva e mãe do filho de Amarildo, chega em frente à UPP e protesta. "É a família do Amarildo, vocês não podem mexer com essa família. Vai cair na conta de vocês! Sumiram com o pai e agora vão sumir com o filho?", grita ela pedindo a liberdade do jovem.

Testemunhas da abordagem, entretanto, disseram que Emerson foi provocado pelos policiais ao falar sobre o caso da tortura e morte do pai dele com um amigo. Os PMs teriam respondido que “traficante tinha que morrer mesmo e que ele era o próximo”.

Em nota, a UPP Rocinha informou que Emerson foi detido por volta das 7h desta segunda-feira por desacato, desobediência e injúria. O filho de Amarildo já está novamente em liberdade.

"Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, que faziam o policiamento na localidade conhecida como Via Ápia no interior da comunidade foram alvos de agressões verbais e ameaças, por parte do morador Emerson Gomes da Silva, de 21 anos. Ao ver os agentes, Emerson ameaçou os policiais e atirou sacos de lixo na Estrada da Gávea impedindo o trânsito na via. Os agentes precisaram intervir e detiveram Ermerson que ofereceu resistência ao ser encaminhado para a 11ª DP (Rocinha) onde o caso foi registrado", diz comunicado.






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