Por bianca.lobianco

Rio - Atingido por um objeto, o entregador de pizza Maycon Gonçalves Melo, 25 anos, ficou cego do esquerdo e no início da noite aguardava a pressão arterial baixar para ser submetido a uma cirurgia no Hospital Municipal Souza Aguiar. Ele perdeu o globo ocular. Um menino de 9 anos, ferido durante a desocupação da 'Favela da Telerj', também está internado no local, sem previsão de alta. Ao todo, 19 pessoas ficaram feridas na ação, sendo nove policiais e três crianças.

Segundo Márcia Gonçalves, 42 anos, logo que os policiais militares chegaram à Favela da Telerj, seu filho Maycon decidiu sair da ocupação para ver se seu neto, que tem 1 ano e 5 meses, e a nora estavam bem, na casa da mãe, na Favela Rato Molhado. PMs fecharam os acessos da comunidade. Houve confronto.

‘Não quero dinheiro do governo%2C só queria a visão do meu filho de volta’%2C disse Márcia desesperadaAndré Luiz Mello / Agência O Dia

“O médico disse que havia estilhaços de alumínio no olho dele”, afirma Márcia. “Não era bala de borracha, mas não sei o que foi. Veio da polícia”, acusa ela, que não tem uma perna e afirma depender de Maycon. “Não quero dinheiro do governo, só queria a visão do meu filho de volta”, desabafou, enquanto era amparada por amigos. “Meu filho é trabalhador. À noite, entregava pizza, tem carteira assinada e, durante o dia, levava e buscava crianças nos colégios. Foi um crime o que a PM fez. Cercou a favela, não deixou ninguém sair nem entrar. Acharam que ele estava na confusão.”

Márcia disse temer ainda que o rapaz entre em depressão, quando souber que não vai mais enxergar. “Se ele se entregar à depressão, vai ser pior. É muito dolorido saber que o Maycon estava lá para conseguir um lugar para a família dele, para sair do aluguel.”

Ainda na Favela Rato Molhado, Ana Paula da Silva, 39 anos, também estava revoltada. Disse ter perdido um dia de trabalho porque policiais impediram que os dois carros que fazem entrega do seu restaurante saíssem com as quentinhas. “Tenho clientes em Duque de Caxias e no Centro, que não receberam os alimentos. A comida toda estragou. Eu pago imposto e fui desrespeitada como cidadã. Quem vai me ressarcir agora?”, reclamava.

Vizinhos estão desconfiados

Após os conflitos pela manhã, à tarde as ruas voltaram a ter algum movimento, apesar do receio e preocupação dos moradores. Para vizinhos da área ocupada, apesar da presença da PM, o clima ainda pode piorar. “Acredito que até domingo ficará tenso, pois estes ocupantes ainda podem tentar algo”, contou Maria das Dores, 54, após buscar os netos na escola.

A maior parte do comércio do Engenho Novo não abriu. Comerciantes acompanharam de perto a movimentação para evitar ações de vândalos.

Reportagens de Adriana Cruz, Athos Moura, Caio Barbosa, Felipe Freire, Gabriel Sabóia, Marcello Víctor, Maria Inez Magalhães, Maria Luisa Barros e Nonato Viegas

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