Rio - A família de Jefferson Rodrigues da Silva, 18 anos, morto, no sábado, durante confronto com homens da Força de Pacificação da Maré não tem dinheiro para enterrar o jovem. De acordo a tia do rapaz, a camelô Silvana Siqueira, os parentes estão fazendo uma "vaquinha" no conjunto de favelas para conseguir R$ 1.760, que é quanto custa o enterro. Para não encarecer ainda mais o funeral, eles já decidiram que o corpo não será velado. O aluguel da capela aumentaria em R$ 180 o valor do enterro.
O corpo permanece no Instituto Médico Legal (IML). Se a família conseguir arrecadar o dinheiro, Jefferson será enterrado amanhã, às 10 horas, no Cemitério do Caju. O rapaz foi baleada e morto no último sábado na Vila do Pinheiro, Complexo da Maré, Zona Norte da cidade. Conhecido como 'Parazinho', Jefferson foi morto com um tiro no tórax.
Segundo as Forças de Pacificação, o homem tentou escapar de uma patrulha e foi morto numa troca de tiros. Por volta das 8h, dois homens tentaram fugir de uma patrulha motorizada. Em seguida, eles foram abordados e começaram a atirar e os militares revidaram. O jovem, que seria Jeferson, foi atingido e outro conseguiu fugir, levando as armas. Com ele, foram encontrados um rádio comunicador e três cartuchos calibre 9 mm.
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Os moradores, contudo, dizem que ele foi atingido por uma bala perdida durante confronto entre militares e um grupo de bandidos. Ainda de acordo com os moradores, o rapaz trabalhava em um lava-jato.
Esta é a primeira morte registrada no Complexo da Maré em confronto desde a chegada das Forças de Pacificação. De acordo com a Força de Pacificação, enquanto a tropa aguardava no local, houve um tumulto com alguns populares.
Revoltados com a morte, moradores da comunidade chegaram a fechar parcialmente a Avenida Brasil, no sentido Zona Oeste, mas foram dispersados pela polícia. Após, seguiram para a Linha Amarela, onde colocaram barricadas e atearam fogo, interditando uma faixa da pista sentido Barra da Tijuca.
Esta é a segunda morte no Complexo da Maré, desde que começou o processo de pacificação. No dia 30 de março, o adolescente de 15 anos Vinícius Guimarães foi morto durante uma confusão na Rua Evanildo Alves, após ser baleado por um traficante conhecido como Caveirinha. Outros dois adolescentes ficaram feridos na confusão entre jovens das favelas Nova Holanda e Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré.
Disque-pacificação
A Força de Pacificação da Maré vai lançar o ‘Disque-Pacificação’, um número de telefone para denúncias sobre criminosos, esconderijo de armas e drogas, além de reclamações e sugestões. Não há ainda um número certo de telefone nem data prevista para o serviço começar a funcionar. As ligações serão gratuitas e o anonimato é garantido.
Especialistas da área de segurança acreditam que a pacificação em grandes regiões, como a Maré, com 130 mil habitantes, só se desenvolve sem conflitos se houver ações conjuntas da polícia e outros setores ligados principalmente a saúde, educação, assistência social e saneamento básico.
“Moradores de áreas carentes precisam de muito mais. Faltam também mais investigações e prisões de criminosos que tentam recuperar regiões lucrativas do tráfico no Rio”, diz Paulo Storani, ex-capitão do Bope.
O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, disse que os conflitos em áreas com UPP ocorrem porque os moradores ainda não confiam na polícia e continuam obedecendo ordens de traficantes: “A população se sente entre a cruz e a espada.”
As Forças Armadas ocupam a Maré desde o último dia 5. Segundo o Comando Militar do Leste, são 2.050 homens no complexo.