Por adriano.araujo

Rio - A Força de Pacificação da Maré vai lançar o ‘Disque-Pacificação’, um número de telefone para denúncias sobre criminosos, esconderijo de armas e drogas, além de reclamações e sugestões.Não há ainda um número certo de telefone nem data prevista para o serviço começar a funcionar. As ligações serão gratuitas e o anonimato é garantido.

Especialistas da área de segurança acreditam que a pacificação em grandes regiões, como a Maré, com 130 mil habitantes, só se desenvolve sem conflitos se houver ações conjuntas da polícia e outros setores ligados principalmente a saúde, educação, assistência social e saneamento básico.

“Moradores de áreas carentes precisam de muito mais. Faltam também mais investigações e prisões de criminosos que tentam recuperar regiões lucrativas do tráfico no Rio”, diz Paulo Storani, ex-capitão do Bope.

O professor Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, disse que os conflitos em áreas com UPP ocorrem porque os moradores ainda não confiam na polícia e continuam obedecendo ordens de traficantes: “A população se sente entre a cruz e a espada.”

As Forças Armadas ocupam a Maré desde o último dia 5. Segundo o Comando Militar do Leste, são 2.050 homens no complexo.

Tiroteio com militares na Maré acaba em morte e protestos

Indignados com a morte de um jovem de 20 anos, identificado somente como Jeferson ou Parazinho, por volta das 7h, moradores fecharam neste sábado a Avenida Brasil e as linhas Amarela e Vermelha, todas próximas ao complexo, que fica em Bonsucesso. Foi a primeira morte de um morador da região após um confronto com as Forças Armadas desde o começo do processo de pacificação, há duas semanas.

Blindados da Marinha isolaram o local onde o corpo do jovem estava coberto por lona verde das Forças Armadas%2C enquanto moradores observavam e fotografavam o cenárioCarlos Moraes / Agência O Dia

Duas versões para o assassinato estão sendo investigadas pela polícia. Uma delas é a de que bandidos em um carro teriam furado uma blitz dos militares do Exército no trecho da Linha Amarela na Vila dos Pinheiros. Os fuzileiros teriam então atirado contra o veículo, e seus integrantes reagiram. Assustado com os tiros, Parazinho teria corrido para se proteger e acabou sendo confundido com um traficante. Uma bala atingiu a vítima no tórax.

Em nota, o comando da Força de Pacificação Maré confirmou a versão do confronto e explicou que dois homens teriam atirado contra a tropa, sendo que o suposto comparsa de Parazinho teria fugido “com os armamentos”. Um radiotransmissor e três cartuchos de pistola 9 mm, conforme a nota, teriam sido apreendidos com Parazinho.

Testemunhas, porém, dizem que o rádio de comunicação e os cartuchos foram ‘plantados’ (forjados) pelos militares ao lado do corpo da vítima.

Ainda de acordo com os moradores, o jovem trabalhava num lava a jato próximo ao local onde foi morto e não tinha envolvimento com crimes. “Era um sujeito pacato e trabalhador”, garantiu uma dona de casa.

Revoltados%2C moradores da Vila dos Pinheiros chegaram a fechar a pista central da Avenida Brasil por alguns minutos depois de morte de rapazCarlos Moraes / Agência O Dia

Revoltados com a morte de Parazinho, moradores iniciaram protestos, interrompendo o tráfego na Avenida Brasil e nas linhas Amarela e Vermelha. O policiamento foi reforçado no resto do dia nas principais vias da região para evitar novas manifestações.

Na espera por peritos da 21ª DP (Bonsucesso), houve troca de insultos entre moradores e soldados, que dispararam balas de borracha e usaram spray de pimenta contra os manifestantes. Pedras foram atiradas contra blindados da Marinha.

Esta é a segunda morte no Complexo da Maré após a chegada da Força de Pacificação. No dia 30 de março, Vinícius Guimarães, de 15 anos, foi morto durante uma confusão na Rua Evanildo Alves, após ser baleado por um traficante conhecido como Caveirinha. Na sexta-feira, um menor também fora atingido por tiro na perna, durante confronto entre bandidos e militares do Exército.

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