Por bferreira

Rio - A principal linha de investigação da Polícia Civil para o assassinato do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, de 77 anos, é a de latrocínio (roubo seguido de morte). O delegado-assistente da Divisão de Homicídios da Baixada Willian Pena Júnior, porém, ressaltou que nenhuma hipótese está descartada. “Outras hipóteses, como homicídio por vingança e queima de arquivo, também são investigadas”, disse.

A casa do militar foi invadida por três homens, na tarde da quinta-feira, no sítio dele no bairro de Marapicu, área rural de Nova Iguaçu. Quando ele e a mulher chegavam em casa por volta das 14 horas, os dois e o caseiro foram rendidos, amarrados e separados nos cômodos da casa. No fim da noite, quando os bandidos abandonaram o local, ele foi encontrado morto de bruços e com o rosto no travesseiro.

O corpo do coronel Paulo Malhães foi enterrado no Cemitério Municipal de Nova IguaçuDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Uma fonte revelou ao DIA que havia sangue no travesseiro onde o coronel foi encontrado. O delegado disse que aguarda o laudo dos peritos para saber qual foi a causa da morte. “A gente está aguardando que o perito legista confeccione o laudo oficial e encaminhe para a DH, para que a gente possa ter certeza da causa da morte da vitima”.

Ex-agente do Centro de Informações do Exército, Malhães depôs na Comissão Nacional da Verdade (CNV) no dia 25 de março. Antes disso, em entrevista exclusiva ao DIA, ele confessou que foi um dos comandantes da missão que sumiu, em 1973, com a ossada do ex-deputado federal Rubens Paiva.

PERTENCES ENCONTRADOS

Ontem à tarde, o delegado voltou com 20 policiais para o sítio a fim de complementar a perícia realizada na sexta-feira. A mulher do coronel e o caseiro também participaram e revelaram ter condições de fazer o retrato falado de dois dos três bandidos, já que apenas um estava com o rosto encoberto.

O delegado contou ainda que alguns pertences como uma impressora e casacos roubados foram encontrados em uma casa a cem metros da residência do coronel. Durante a semana, os filhos da vítima também devem prestar depoimento.

O corpo de Paulo Malhães foi enterrado na tarde de ontem, no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu. Cerca de 30 pessoas compareceram ao sepultamento. Carla Malhães, de 51, filha do coronel fez o cortejo de mãos dadas com a viúva Cristina Batista Malhães, de 36, e disse que não associa o pai a um ex-torturador. “A gente está se despedindo do nosso pai. Para vocês (em direção aos jornalistas), é o coronel da ditadura; mas, para nós, é nosso pai. É um momento dolorido”, desabafou ela.

Medo entre colaboradores

A morte do coronel Paulo Malhães um mês depois da entrevista ao DIA e do depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV) deixou outros agentes que estão colaborando com as investigações com medo. Um assessor da CNV contou que alguns militares reformados têm desde ontem pedido proteção.

Desde que ficou sabendo da morte do coronel, a comissão solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que colocasse a Polícia Federal para acompanhar as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O próprio ministro também já fez a solicitação, mas a PF não confirmou se vai entrar no caso.

O sítio não tem marcas de tiros e não havia cápsulas na casa. Foram coletadas digitais no carro do coronel. A família acompanha o caso com cautela.

Guia aponta que vítima tinha problemas no coração

Pela manhã a divulgação da guia de sepultamento do corpo de Paulo Malhães trouxe algumas indicações sobre as possíveis causas da morte do oficial do Exército.

No documento estão listadas como ‘causas mortis’: edema pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica — esta última uma doença cardíaca pré-existente. No entanto, o delegado da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) William Pena Júnior afirmou que o documento, que não serve como laudo cadavérico, também não é oficial. Segundo ele, nas guias de sepultamento, as informações, em geral, mostram alguns dados encontrados no corpo que podem indicar a investigação do perito.

“A guia não é um documento oficial da Polícia Civil, mas a gente pode solicitar e juntar ao inquérito para saber se confrontado com o laudo cadavérico vai dar o mesmo. Eu desconheço esse documento”, disse o delegado Pena Júnior.

O laudo de necropsia ainda não está pronto e, por lei, tem o prazo de dez dias para ser entregue — tempo que pode ser prorrogado. O perito legista Mauro Ricart disse que os dados da guia apontam para um problema no coração devido à forte emoção. “Ele já sofria de uma cardiopatia grave que pode causar enfarte se passar por um susto ou por uma forte emoção”, explicou.

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