Rio - A ocupação do Complexo da Maré pelo Exército completa 30 dias amanhã, mas a região ainda está longe de alcançar a paz desejada pela população. Dos 39 territórios pacificados no estado, este tem sido o maior desafio para as forças de segurança, pela resistência de criminosos. Segundo levantamento da polícia, do arsenal das duas facções que atuam na Maré, ainda há pelo menos 100 fuzis escondidos nas comunidades, para a proteção das quadrilhas e das lideranças tráfico que circulam pelas comunidades.
Um dos líderes, Amabílio Gomes Filho, o MB, foi preso sexta-feira na comunidade Parque Rubens Vaz. Ainda de acordo com policiais, esses chefões das quadrilhas continuam entrando e saindo livremente das comunidades, levando ordens de seus superiores que conseguiram escapar do cerco militar. Eles continuam comandando a venda de drogas e dando aval para que os comparsas enfrentem as forças de segurança.
As ocorrências registradas nos últimos 30 dias confirmam a resistência armada dos bandidos. Desde os primeiros momentos, combatentes da Força de Pacificação enfrentaram seis ataques a tiros e cinco confrontos com criminosos, que deixaram dois mortos e dois baleados, um deles, quinta-feira. Em outras duas situações ocorridas em favelas dominadas pela facção Terceiro Comando, dois militares foram alvos de tiros de pistolas, mas as balas foram contidas pelos coletes usados por eles, sem que os soldados fossem feridos.
A Força de Pacificação admite a presença do armamento, apesar de afirmar não saber ao certo quantas peças há no arsenal da Maré. “A gente sabe que tem armas porque os militares visualizaram diversas vezes os criminosos armados. Eles chegam a efetuar disparos contra a tropa e fogem. Mas não temos um levantamento sobre o número de armas ali”, disse o relações-públicas da força, major Kruchak.
Enquanto o Exército aposta em ações de Inteligência para tentar combater o crime, a Polícia Civil inaugura esta semana um posto avançado da 21ª DP (Bonsucesso), criado especialmente para investigar ocorrências do complexo e combater o tráfico. A unidade terá sua base no quartel Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, na Avenida Brasil, onde trabalharão quatro policiais.
MB queria se livrar do crack
Em uma casa com piscina, no Parque Rubens Vaz, Amabílio Gomes Filho, o MB, vivia confortavelmente há pelo menos cinco meses. Porém, antes disso, o traficante passou um período internado em clínica na Paraíba para se tratar do vício do crack, amplamente comercializado na Maré. Na sua ausência, Rodrigo da Silva Caetano, o Motoboy, que segue foragido, comandou o tráfico na Nova Holanda e ainda agiu no Parque União e Rubens Vaz.
“Mesmo após sua saída, tudo continuava sob seu comando. Foi ele quem indicou o Motoboy para o posto. Além disso, MB era um dos principais assaltantes de carros e cargas na região”, detalhou o delegado Rodrigo Santoro.
Sem resistir, MB foi surpreendido por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, que fizeram buscas em sua casa e de sua namorada. Além do monitoramento de meses, informação repassada ao aplicativo WhatsApp do Portal dos Procurados (96802-1650) ajudou na localização dele.
Instalação de UPP ainda sem previsão
A ocupação do território não prevê ainda a instalação de Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) na Maré. Assim como ocorreu no Complexo do Alemão, em 2010, as tropas do Exército podem ficar no local além do previsto. No pedido feito pelo estado ao Governo federal, a permanência do contingente na Maré será até 31 de julho. No entanto, já circula entre a cúpula do governo a informação de que o prazo deverá ser estendido.
A falta de efetivo para substituir as tropas é o principal motivo para a solicitação de mais prazo junto ao Ministério da Defesa. A Polícia Militar ainda não dispõe de número de soldados recém-formados que chegue ao idealizado pela Secretaria de Segurança Pública para formar as UPPs da Maré: 1.500 PMs. A previsão é de que as unidades só sejam instaladas no fim do ano.
Colaborou Felipe Freire