Por thiago.antunes

Rio - As obras para a Copa do Mundo, em execução no Rio, e até as planejadas para as Olimpíadas de 2016 podem parar ou sofrer atrasos por conta da greve de arquitetos e engenheiros da prefeitura — a primeira desde 1980. Eles começaram nesta terça a paralisação, que deve ir, inicialmente, até quinta-feira. A categoria pede o aumento do piso de R$ 4.700 para R$ 8.400. De acordo com a Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (Seaerj), 800 dos 1.200 funcionários estão parados.

Segundo o presidente do Seaerj Joelson Zuchen, o fato de o prefeito Eduardo Paes não ter aberto negociação com a categoria pode gerar um “empecilho burocrático”, que atrasaria o andamento de obras, como as dos corredores do BRT: “Somos nós os responsáveis pelo repasse de verbas da prefeitura para as empreiteiras. Se todos pararem, as obras atrasam e podem parar”.

Engenheiros e arquitetos que trabalham para a Prefeitura do Rio fazem ato na Cidade Nova%3A a paralisação pode comprometer os prazos de obras%2C como o BRT TranscariocaFernando Souza / Agência O Dia

Nesta terça, cerca de cem engenheiros e arquitetos protestaram em frente ao prédio da prefeitura, na Cidade Nova. Eles pediram encontro com o prefeito Eduardo Paes, mas não foram atendidos. Para hoje, o Seaerj planeja uma manifestação nas escadarias da Câmara dos Vereadores, às 14h. Na quinta-feira, será realizada uma assembleia da categoria, que decidirá os rumos da greve. “Basta o prefeito nos receber que interrompemos a greve”, resumiu Zuchen.

Estão suspensos os serviços de fiscalização, conservação e licenciamento das obras do Rio. O atendimento a emergências da cidade, como a cratera que abriu em Ipanema por conta das obras do metrô, no último domingo, e possíveis deslizamentos de encostas, não ficarão descobertos com a greve. “A Defesa Civil e o setor de Geotécnica estão funcionando com equipes de plantão. Nosso objetivo não é prejudicar e causar transtornos à população e, sim, mobilizar a prefeitura”, disse o presidente da Seaerj.

Há sete meses, Zuchen pede propostas de aumento para a prefeitura: “Estamos abertos a negociações com o prefeito, mas ninguém nos dá respostas”. A assessoria de imprensa da prefeitura disse que a Secretaria de Governo está responsável por dialogar com a categoria. Já a pasta respondeu que a agenda do secretário David Carlos Pereira estava cheia nesta terça, mas que “a prefeitura está aberta ao diálogo e que respeita qualquer reivindicação.”

Na Escola Municipal Senador Correa%2C em Laranjeiras%2C muitos professores não foram trabalharAlessandro Costa / Agência O Dia

Paralisação se estende pela Região Metropolitana

A greve dos professores das redes municipal e estadual entra hoje no terceiro dia. Segundo o sindicato da categoria, o Sepe, a adesão é maior na rede municipal — 65% contra 60% na véspera. Na rede estadual, esse índice é de 40% — 35% na véspera. Mas a Secretaria de estado de Educação diz que a adesão é pequena e que “nenhuma unidade deixou de funcionar ontem”. Além disso, em virtude da greve dos rodoviários, não haveria um número preciso de professores faltosos.

Dentre as principais reivindicações dos professores, tanto da rede estadual como municipal, estão: plano de carreira unificado; reajuste linear de 20% com paridade para os aposentados; eleição direta para diretores; e uma matrícula por escola, dentre outros itens. No Colégio de Aplicação da UFRJ, a direção decidiu suspender as atividades pedagógicas, previstas para o turno da tarde desta terça, para o dia esta quarta-feira.

Alunos de outros municípios da Região Metropolitana também enfrentam a greve dos professores. A rede municipal de Nilópolis, após greve de advertência de 48 horas, fez um ato na prefeitura ontem, mas o prefeito Alessandro Calazans se recusou a receber uma comissão da categoria. Após a manifestação, os profissionais fizeram uma caminhada pelo Centro de Nilópolis, e uma assembleia realizada, logo após, deliberou pela entrada imediata em greve por tempo indeterminado.

As redes municipais de São Gonçalo (em greve desde o dia 25 de março) e de Duque de Caxias (parada desde sexta-feira) continuam paralisadas. Os profissionais das escolas de São Gonçalo farão uma assembleia na quinta-feira, no Colégio Municipal Castello Branco, para decidir os rumos do movimento. Já os profissionais do município de Duque de Caxias realizarão uma plenária nesta quarta, às 13h, na porta da prefeitura, para definir os próximos passos da paralisação.

Em São Gonçalo, os professores pedem um reajuste de 30% e eleição para diretores de escolas. Em Duque de Caxias, o pleito é por reajuste de 16%, e eleição para diretores de escolas também. Em Belford Roxo, a prefeitura ofereceu reajuste de 7% para os professores, que não aceitaram: querem 18%.

Mundial dá visibilidade a movimentos sindicais

A incidência de movimentos grevistas Rio às vésperas da Copa do Mundo provoca questionamentos e dúvidas em relação ao propósito dos atos. Para estudiosos e especialistas, quando se observa questões como oportunismo e legalidade, os ideais se completam. Se por um lado as greves em nada tem a ver com a competição, por outro o “momento propício” acaba por incitar novas paralisações e agilizar acordos.

Segundo Marcos Verlaine, membro do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), as greves que hoje ocorrem no Rio já estavam previstas: “Todo ano, em maio, acontecem esses movimentos. Não tem relação direta com a Copa, mas como ocorre em uma cidade-sede, é lógico que eles aproveitam para ter mais visibilidade”.

Para o sociólogo e professor da Unicamp Ricardo Antunes, as articulações também ocorrem diante do descontentamento geral dos trabalhadores. “Não é possível que tudo funcione para a Copa e nada funcione para o trabalhador. Acredito que durante a Copa ainda teremos mais movimentos”, completou Antunes.

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