Por thiago.antunes

Rio - Moradores de rua que estavam acolhidos na abrigo da prefeitura, em Paciência, fizeram um motim e queimaram colchões, móveis e remédios na manhã de segunda-feira. A confusão começou após um grupo se revoltar contra as condições insalubres do local, a alimentação estragada e a superlotação. Segundo funcionários, há pelo menos 600 pessoas na unidade, número muito maior que o ideal, que é de 400.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não quis comentar a rebelião. Mas afirmou que a quantidade de moradores de rua aumentou no abrigo Rio Acolhedor devido ao frio e a chuva nas últimas semanas na cidade.

Abrigo Rio Acolhedor%2C na Zona Oeste%2C estaria recebendo 600 pessoas%2C 200 além da sua capacidadeCarlos Moraes / Agência O Dia

Para a promotora Patrícia do Couto Villela, que participou de uma inspeção há duas semanas na unidade, são tantos os problemas no local que é preciso uma reformulação no programa e nas acomodações de acolhimento. “Tinha alimentação que não era adequada, estruturas precárias. Mas o que mais me chamou a atenção foi a quantidade de pessoas em idade laborativa sem fazer nada”, disse a promotora, que é coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de de Tutela Coletiva de Cidadania.

No último dia 25, o Ministério Público conseguiu uma liminar na Justiça impedindo que o município receba mais pessoas no abrigo. Mas a prefeitura afirma que não foi notificada ainda da decisão. No mesmo despacho, da juíza Gisele Guida de Faria, da 9ª Vara de Fazenda Pública, é determinado que seja feita a troca de todos os colchões. Esta medida tem uma explicação: a infestação de percevejo. A prefeitura disse que já havia acatado esta exigência antes da decisão judicial.

Um dos temores do Ministério do Público é que o local sirva de suporte para um processo de “higienização social”, motivado pela chegada de turistas na cidade por causa da Copa. “Faremos inspeção no abrigo durante este período também para acompanhar.”

Unidade acuada por tráfico e milícia

Pessoas amontoadas, pouca ventilação num espaço restrito e uma parte externa onde há o comércio de drogas da Favela de Antares de um lado e a atuação de grupos milicianos do outro. O cenário do caos que descreve o abrigo de Paciência está num relatório feito, em 2013, pelo Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura, que foi criado na Alerj, por lei. No documento, o grupo de inspeção contou, inclusive, que, durante uma visita, uma equipe foi abordada na entrada da unidade por um homem portando um fuzil.

A violência no local já foi relatada pelo DIA, em março. A estação de trem que dá acesso à favela de Antares é território de traficantes há pelo menos oito anos. No local, a venda de droga acontece em plena luz do dia. Bandidos gritam sem nenhum tipo de preocupação o valor do papelote de cocaína. Alguns abrigados, inclusive, saem da unidade para comprar a droga e voltam, sem ser incomodados.

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