Por daniela.lima

Rio - Fim de tarde na estação Central do Brasil. Não importa o ramal, quando o trem encosta, antes mesmo de parar, os passageiros seguram as portas e caminham seguindo-as. Quando elas se abrem, todos correm em direção aos bancos e a composição chega a balançar. Tudo isso para viajar sentado. Quem não quer enfrentar essa situação, improvisa, levando banquinhos, travando a porta ou até mesmo se arriscando. 

Quando o trem chega para buscar passageiros no fim da tarde, muitos seguram as portas e caminham, seguindo-as. Quando elas se abrem, correm para pegar lugar nos bancos e viajar sentadosAthos Moura / Agência O Dia


O pintor José Roberto Cavalcanti, de 37 anos, mora em Inhoaíba, Campo Grande, e todo o dia se desloca de trem. Ele não se ilude mais achando que irá conseguir sentar no vagão. Mas isso não quer dizer que ele viaje em pé. Desde dezembro, o pintor leva um banquinho dobrável dentro da mochila e consegue relaxar no seu trajeto de uma hora e 15 minutos.

“Para sentar é uma briga muito grande. Prefiro trazer meu banquinho e não me preocupar. Mas em alguns dias, o trem está tão cheio que não tenho espaço pra abrir meu assento”, contou.

Há aqueles que preferem se arriscar, e além disso, esquecem da educação. Os ramais de Santa Cruz e Japeri têm plataformas preferenciais para idosos, grávidas e deficientes, onde as portas abrem antes. Porém, quando o trem encosta, muitos usuários pulam nos trilhos para mudar de plataforma e embarcar antes dos demais. Os idosos também reclamam quando os assentos preferenciais não lhes são cedidos. “O banco preferencial parece sonífero. Todo mundo que senta nele está dormindo”, ironizou o aposentado Luiz Menezes.

Outra atitude que se tornou normal é travar a porta para que ela não abra, assim, passageiros não entram e o trem não enche mais. O administrador João Oliveira, de 32 anos, já presenciou a cena. “O pessoal faz pressão no sentido contrário para a porta não abrir e ficam falando que ela está quebrada. Isso é para não entrar mais gente”, revelou.

Passageira de trem há 15 anos, a cabeleireira Roberta Carvalho contou que já viu até gente entrando pela janela. “Quando o trem é velho, aqueles sem ar-condicionado, pulam a janela. Todo mundo quer ir sentado”.

A Supervia informou que orienta a população sobre a boa convivência no sistema ferroviário, além de reforçar questões relacionadas à segurança dos passageiros.

VELHO HÁBITO

Aperto acaba com interação

Nos últimos anos a quantidade de passageiros que usa trens aumentou consideravelmente. Com isso, certos hábitos que eram comuns, acabaram sendo extintos, simplesmente pela falta de espaço nos vagões. O porteiro Valdir Nogueira contou que há cinco anos, por exemplo, em todos os vagões havia pessoas com baralhos jogando sueca.

Hoje, segundo disse, ver as pessoas interagindo é raro. “Nós jogávamos e o tempo da viagem passava mais rápido. Era bom porque formávamos um grupo e fazíamos amizades. Hoje em dia, ninguém mais faz isso. Até porque, se quisermos jogar, não vamos conseguir porque não tem mais espaço nos trens”, contou o porteiro.

VAI E VOLTA

Baldeação garante lugar

A guerra pelo assento faz com que alguns passageiros ampliem o seu tempo de viagem para evitar irem em pé. Quem embarca nas estações Bangu e Campo Grande, por exemplo, de onde saem trens paradores, reclamam que quando os trens param não há mais assentos disponíveis. Os passageiros embarcam nas composições nas estações anteriores e viajam até a terminal, depois retornam. Tudo isso pelo prazer de irem sentados. Eles cobram por mais bancos.

A Supervia informou que oferece cerca de 35% dos lugares de cada carro em bancos distribuídos em diferentes disposições.

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