Por thiago.antunes

Rio - A lista de problemas esperados por estrangeiros durante a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016 não para de crescer. Segurança, aeroportos, transportes, rede hoteleira. Nesta segunda-feira, o ‘New York Times’, um dos mais importantes jornais dos Estados Unidos — e do mundo —, estampou na primeira página da edição impressa uma reportagem com o título: “Aviso aos velejadores olímpicos: não caiam na água do Rio”.

Com relatos de atletas de ponta, o jornal traça um cenário extremamente crítico da situação da Baía de Guanabara, onde serão disputadas as provas de vela em 2016. “Claro que o título é exagerado, ninguém vai morrer se cair na Baía. Nós treinamos a vida toda ali. Mas a promessa de 80% de despoluição não será cumprida, já falam em 60%. O Rio deveria já ter um plano B, como levar a vela olímpica para Búzios”, avalia o dono de duas medalhas olímpicas e pentacampeão sul-americano Lars Grael, de 50 anos. Para Grael, não aproveitar a oportunidade dos jogos para limpar a Baía seria dar adeus a ela. “A hora é agora. Ou lutamos pela Guanabara ou decretamos sua morte”.

A Baía de Guanabara vai abrigar as competições de vela durante os Jogos Olímpicos de 2016Reprodução

Na reportagem do ‘New York Times’, o velejador austríaco Nico Delle Karth, 30, e o brasileiro Thomas Low-Beer, 24, se dizem assustados com a sujeira. “Eu nunca vi nada como isso antes. É o lugar mais sujo que treinei”, relatou Niko. “Há carcaças de cães e água marrom que nem esgoto”, concorda o brasileiro.

Em nota reproduzida no jornal, responsáveis pela equipe de vela da Alemanha alertaram seus atletas: “Bem-vindo à lixeira que é o Rio”. A Secretaria de Estado de Ambiente, que toca o projeto de despoluição da Baía, informou que espera cumprir a meta de 80% de despoluição. Para isso, além de Unidades de Tratamento de Rios (UTRs), que recebem esgoto e lixo, há projetos de saneamento de praias da Baía e programas de reflorestamento do entorno. Segundo o órgão, o tratamento de esgoto subiu de 18% para cerca de 40%.

Despoluição levaria mais de 20 anos

Para o oceanógrafo David Zee, a Baía de Guanabara precisará de, pelo menos, 20 anos para chegar a níveis toleráveis de poluição. “A hora é de tomarmos medidas paliativas para reduzir a possibilidade de vergonha na Olimpíada. Através do estudo dos ventos e correntes, podemos conter o lixo flutuante”, diz o cientista.

Poluição da Baía de Guanabara%3A primeira página do jornal dos EUAReprodução

Segundo Zee, não haverá uma solução em três anos para reverter o processo de degradação de 30, 40 anos: “Porém qualquer melhora será muito importante. Nada resolverá ficarmos dizendo que está ruim. Isso todos sabemos. É hora da sociedade cobrar das autoridades e começarmos a resolver o problema”.

“Nunca, na história olímpica, uma raia foi tão suja quanto a nossa. É preciso investir em saneamento”, constata Lars Grael. Há quatro dias, o site de notícia americano ‘Global Post’ publicou reportagem semelhante, sob o título “Venha para a Copa, nade em meio a fezes”. Na reportagem, duras críticas aos níveis de contaminação nas praias oceânicas, na Baía de Guanabara e nos rios.

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