Rio - Durou cerca de duas horas e meia a reunião entre o governador Luiz Fernando Pezão e representantes da área de segurança pública do Rio, que aconteceu na manhã desta quinta-feira, no Palácio Guanabara, em Laranjeiras. Logo após o encontro, Pezão afirmou que vai encaminhar até o final de junho para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro um projeto de lei de incorpora a gratificação aos policiais civis, que estão realizando uma paralisação de 48h.
"Mas antes de encaminhar a Alerj, é preciso estudar os prazos e orçamento. Afinal, estamos no último ano de governo", diz.
Pezão, no entanto, minimizou os efeitos da paralisação dos policiais civis e disse não haver clima para greve. De acordo com o governador, nos últimos sete anos, a categoria teve aumento de 147%. Francisco Chao, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Rio (Sindpol), deixou a reunião sem falar com a imprensa. Mas antes do encontro com Pezão, ele disse esperar um acordo entre o governo e o sindicato.
"Fui convocado pelo governador para a reunião e espero que chegue ao fim a negociação salarial, que já dura um ano." De acordo com Chao, a negociação pelo reajuste salarial começou na casa de Pezão, quando este ainda era vice-governador, há cerca de um ano. "O governador sabe o quanto trabalhei para que a situação não chegasse a esse nível", disse.
Já o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, considerou o encontro com o governador positivo e que a reunião possibilitou de que todos pudessem expor suas ideias. Para ele, não há greve, porém, não soube afirmar que a paralisação dos agentes vai continuar.
"Essa é uma decisão sindical, não cabe a chefia da Polícia Civil. Eu apoio todas as reivindicações que foram apesentadas ao governador, mas sou contra qualquer paralisação que chegue a prejudicar a sociedade".
Policiais civis decidem estender greve
O Sindpol decidiu, na noite desta quarta-feira, estender a greve da categoria para mais um dia. A continuidade da paralisação foi votada em assembleia no Club Municipal, na Tijuca, Zona Norte. Cerca de 2 mil agentes participaram da votação.
Também ficou definido que os agentes vão se recusar, durante o movimento, a atuar na ação chamada de Repressão Qualificada, uma blitz noturna para coibir crimes. Eles alegam que a ação só pode ser realizada pela Polícia Militar, já que os civis não têm curso de especialização para conduzir viaturas, exigência do Código de Trânsito. Também entraria em votação se os 30% de policiais que trabalhariam, como determina a lei, usariam fitas pretas nas roupas.
Efetivo nas delegacias foi diminuindo ao longo do dia
Durante todo a quarta-feira, O DIA percorreu delegacias da Região Metropolitana para verificar o impacto da paralisação. Pela manhã, o movimento foi normal em várias unidades, inclusive no Instituto Médico-Legal, que fez perícias e exames. As unidades distritais registraram apenas ocorrências de crimes violentos (homicídios, estupros, latrocínios e roubos, além das prisões em flagrantes). Para as queixas de outros crimes, a população foi orientada a retornar outro dia ou registrar pelo site da instituição.
À tarde, devido à concentração na Cidade da Polícia, o atendimento diminuiu. Na 5ª DP (Gomes Freire), apenas 30% da equipe estavam trabalhando. A auxiliar de enfermagem Vera Lúcia da Silva, de 64 anos, tentou registrar o furto de seu celular na 12ª DP (Copacabana). “Os policiais foram educados, anotaram meu caso e pediram para eu voltar. Gastei tempo em vão e fico chateada, mas procuro respeitar o lado deles porque todos têm direito de reivindicar, desde que seja dentro da lei”.
Mudança de rotina nas escolas
A simples ameaça de paralisação da Polícia Militar bastou para que alguns colégios particulares do Rio cancelassem aulas e provas. O Colégio Cruzeiro, no Centro, não abriu as portas. Na Tijuca, o Colégio Palas adiou testes. Já na Escola Parque, na Gávea, o temor dos pais fez a taxa de ausência chegar a 50% em algumas turmas. Já a rede pública funcionou normalmente e a frequência dos alunos foi normal, disseram as secretarias estadual e municipal de Educação.
Mãe de aluna do 9º ano do Palas, Diliane Pereira, 44, deixou a filha em casa. Segundo ela, os saques ocorridos em Pernambuco, onde a PM fez greve na semana passada, pesaram na sua decisão. “Achei as imagens horríveis. A gente fica vulnerável sem ninguém para nos defender. Mesmo sem greve, quis mantê-la em casa”.
A negociação de PMs e bombeiros deve começar na próxima semana. Hoje, comissão da Associação de Praças da PM e Corpo de Bombeiros se reúne às 15h para finalizar as reivindicações. O texto será entregue segunda-feira ao presidente da Alerj, deputado Paulo Melo, que vai encaminhar ao governador Pezão. Os principais pedidos são a limitação da jornada em 44 horas semanais e a revisão do regulamento disciplinar, considerado desatualizado.