Por paloma.savedra

Rio - Em ritmo de muito samba, a presidenta Dilma Rousseff inaugurou na manhã de ontem, em Madureira, a obra do BRT Transcarioca, que vai ligar a Barra da Tijuca à Ilha do Governador. Dilma, que chegou a tocar pandeiro, reco-reco e tamborim, e vestir um chapéu panamá (símbolo dos sambistas cariocas), também participou da entrega das obras de ampliação do Terminal 2 do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) e das chaves do conjunto habitacional de Manguinhos. Durante os eventos, que contaram com manifestação de professores, ela anunciou a liberação de mais de R$ 3 bilhões a serem investidos em obras de infraestrutura para as Olimpíadas de 2016.

A presidenta Dilma Rousseff 'caiu' no samba com o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão durante a inauguração do BRT TranscariocaJoão Laet / Agência O Dia

Ao lado do prefeito Eduardo Paes, do governador Luiz Fernando Pezão e do ex-governador Sérgio Cabral, Dilma enfatizou que as obras são para a população. “Nenhum legado é da Copa do Mundo. Todos os legados são do povo brasileiro. Não estamos fazendo aeroportos para a Copa. São para todos os brasileiros. Não estamos fazendo uma obra desse porte para a Copa do Mundo, nós temos o compromisso de fazê-la para todos os cariocas”, declarou.

Cercada por políticos e operários que trabalharam na obra, a inauguração do BRT contou com a presença de sambistas como Monarco da Portela, Nelson Sargento e Dona Ivone Lara, além das baterias da Portela, do Império Serrano e da União da Ilha. Animada, Dilma cantou junto e aplaudiu diversos sambas. Durante o ato, ela e Paes assinaram o contrato de liberação de mais de R$ 3 bilhões — a maior parte por meio de financiamento do BNDES —, garantindo a conclusão das obras de infraestrutura para a cidade, especialmente na área de mobilidade.

Os recursos serão investidos na construção do BRT Transolímpica e na ligação com a Transbrasil, trecho Alvorada-Jardim Oceânico do BRT Transoeste, na duplicação do Elevado do Joá — incluindo a construção da ciclovia —, na ciclovia da Avenida Niemeyer e no túnel da Via Expressa, entre outras obras.

Em Deodoro, a Secretaria municipal de Obras vai construir uma via de quatro quilômetros que ligará a Transolímpica e Tranbrasil e ficará paralela à Vila Militar. A Transolímpica começou a ser construída em 2012 e terá 23 quilômetros da Barra da Tijuca a Deodoro, passando por Curicica, Taquara, Jardim Sulacap e Magalhães Bastos.

Com 39 quilômetros de extensão, a Transcarioca, que começa a funcionar hoje, reduzirá em 60% o tempo das viagens. Ao todo, são 47 estações e cinco terminais (Alvorada, Tanque, Taquara, Madureira e Fundão).

Ao lado do ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, e do governador Luiz Fernando Pezão, a presidenta Dilma Rousseff inaugurou as reformas do Terminal 2 do GaleãoDivulgação

Visita foi marcada por atos, mas sem violência

Em Benfica, cerca de cem servidores em greve aguardavam a presidenta, que entregou as chaves das primeiras unidades habitacionais do Conjunto Nova CCPL. Os funcionários públicos e movimentos sociais cobravam reajuste salarial e outras reivindicações.

Com cartazes, faixas, balões de gás e um carro de som, os manifestantes exigiam diálogo da presidenta com as categorias. Entre os servidores, estavam trabalhadores da Saúde, Cultura, Educação e os movimentos de sem-teto e estudantil, todos com o grito “Negocia, Dilma!”.

Um forte aparato das Forças Armadas e da Polícia Militar cercou a entrada por onde Dilma passou para chegar ao evento. O clima ficou tenso quando o comboio da presidenta passou, gerando empurrões e discussões, mas, apesar do tumulto, não houve grandes incidentes.

Participante do ato, a diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Vera Nepomuceno, disse que o governo federal não negocia. “Queremos que o Plano Nacional de Educação destine 10% do PIB para o setor, mas apenas somos recebidos, e com truculência, pela polícia. Isso não pode acontecer”, disse.

Em Madureira, manifestantes fizeram protesto contra a Copa e por mais verba para a Educação, mas não chegaram a ser registrados atos de violência.

'Quando não chovia, ficava ilhada', diz moradora de antiga fábrica 

A costureira Benedita Alves de Souza, de 65 anos, é uma das contempladas pelas chaves dos primeiros 564 apartamentos do Conjunto Nova CCPL, em Benfica. Emocionada, ela conta que morou por dez anos na antiga fábrica da CCPL com um dos filhos e seis netos. “Estou sem palavras. Toda vez que chovia, a gente ficava ilhado dentro de casa, sem poder sair para trabalhar. Agora tudo vai mudar”, disse Benedita.

O conjunto foi construído no terreno de 51 mil metros quadrados, onde antes funcionava a Cooperativa Central dos Produtores de Leite (CCPL). Mais de mil famílias viviam nos galpões abandonados, após a desativação da unidade.

Com a chave de casa%2C Benedita diz que sua vida será melhorDivulgação

O prefeito Eduardo Paes comemorou a inauguração: “Esse lugar era abandonado, com uma geração maltratada”. O governador Luiz Fernando Pezão lembra de quando visitou a fábrica pela primeira vez: “Eu chorei quando vi as condições em que aquelas pessoas viviam”. A presidenta Dilma Rousseff parabenizou a todos. “Entrem nos apartamentos com a cabeça erguida, porque foi uma conquista de vocês”, disse.

A mudança está prevista para acontecer até o dia 10. Cada apartamento mede 37,6 metros quadrados e conta com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. O condomínio tem áreas de lazer, praça arborizada, ciclovia e quadra poliesportiva.

A obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que custou R$ 683,2 milhões, incluindo urbanização, saneamento, iluminação pública, paisagismo e mobiliário urbano. Nesta primeira etapa, foram entregues 23 blocos do conjunto, ao custo de R$ 83 milhões. Cada um com quatro andares. A construção das 164 unidades restantes, divididas em nove blocos, está sendo licitada pela Secretaria de Obras, com orçamento estimado em R$ 26,8 milhões, perfazendo um total de R$ 110 milhões para a construção de todo o condomínio.

Novo corredor transportará 320 mil passageiros por dia

Segundo corredor exclusivo de ônibus da cidade, o Transcarioca, que custou R$ 1,9 bilhão, vai transportar 320 mil passageiros por dia e fazer a integração com a Estação do Metrô Vicente de Carvalho, estações de trem de Madureira e Olaria, e com o BRT Transoeste, no Terminal Alvorada. Neste início de operação, que contribuirá ainda para o transporte de torcedores durante a Copa, estará funcionando o trecho entre Alvorada e Tanque, que compreende 19 estações, e os pontos de embarque do Galeão (1 e 2) e Vicente Carvalho.

Ao lado do operário Jonas de Sousa, 37, que trabalhou no trecho de Campinho e foi chamado ao palco para participar da cerimônia, Pezão ressaltou a grandeza da obra. “A Transcarioca é uma obra que surpreende pela ousadia. Quando a gente inaugura uma obra desse porte, o coração parece que vai explodir.”

“O BRT vai cortar 27 bairros. Aproveitamos a Copa para mudar a vida desse pessoal. Além disso, temos de lembrar que quatro grandes regiões por onde os ônibus vão passar foram pacificadas”, enfatizou Paes.

Discursos em tom eleitoral marcam o dia

As inaugurações ganharam tom eleitoral. O clima começou com o prefeito: “O Rio é o único lugar em que pagamos um governador e recebemos dois. Essa aliança no Rio gera benefício à sociedade.”

Em seguida, foi a vez de Cabral, pré-candidato ao Senado: “O Rio é um canteiro de obras. É um privilégio ter ao meu lado um companheiro que pisou na lama. O coração é maior que o pé dele”, disse.

Pré-candidato pelo PMDB, Pezão discursou como vencedor. “Vamos continuar a construção de habitações em outras comunidades”. E ainda alfinetou a oposição. “É fácil criar blog e criticar. O difícil é fazer.”

Dilma voltou a destacar a parceria entre União, estado e município, e elogiou Pezão: “Na Rocinha, eu fui indicada pelo presidente Lula como mãe do PAC e Pezão como o pai do PAC no Rio". A agenda terminou com almoço na residência oficial do prefeito, na Gávea Pequena.

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