Por bianca.lobianco

Rio - O documentário “Tim Lopes — Histórias de Arcanjo” estreia na próxima quinta-feira e vai levar para as telas do cinema nacional a vida do jornalista Tim Lopes, morto por traficantes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, há exatos 12 anos. Na época, o profissional apurava denúncias de abusos sexuais em bailes funk na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.

O filme é dirigido por Guilherme Azevedo, que trabalhou durante seis anos com Tim Lopes e foi seu parceiro em diversas reportagens investigativas, como “Feira das drogas”. O roteiro foi assinado pelo jornalista e filho de Tim, Bruno Quintella, 31 anos. Segundo ele, o título do filme traduz a proposta de tornar público o perfil sensível de Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, nome de batismo de Tim Lopes. 

Para Guilherme Azevedo, não existia pessoa mais indicada do que Bruno para contar a história do pai e profissional: “Poucos conhecem a história do Arcanjo. Quando decidi fazer o documentário, sabia que não havia pessoa mais indicada do que o filho dele. Juntos, conhecemos várias histórias de Tim Lopes”. Ele conta ainda que parte do material do documentário que não foi utilizado será transcrito para a edição de um livro sobre o jornalista.

Filho do jornalista Tim Lopes%2C Bruno Quintella visitou a localidade da Pedra do Sapo%2C no Complexo do Alemão%2C onde seu pai foi assassinadoDivulgação

Bruno Quintella explica que o filme também dá ênfase a reportagens da época em que Tim Lopes atuou nos jornais “O Repórter”, “O Dia”, “O Globo”, “Folha de S. Paulo” e “Jornal do Brasil”. Sem deixar de mencionar as reportagens especiais produzidas para a Rede Globo: “Decidimos mostrar o Tim cronista, apaixonado pelo Rio de Janeiro, e o profissional que se preocupava em dar voz às classes esquecidas da sociedade.”

Quintella explica que o ponto de partida do filme é o assassinato de Lopes. E a partir daí, é contada a sua trajetória profissional e pessoal, com momentos especiais da carreira e as origens no Rio Grande do Sul.

Entre as reportagens apresentadas, estão a dos operários do metrô do Rio, quando pela primeira vez o jornalista trabalha infiltrado. A matéria foi feita na década de 80 e o repórter se cadastrou com o verdadeiro nome e mostrou as condições precárias dos funcionários da obra.

Também como destaques, há as histórias de moradores de rua, menores infratores, prostitutas e traficantes de drogas.

Quintella visitou local da morte

Uma cena que promete emoção ao público é a visita de Bruno Quintella à Pedra do Sapo, localidade do Complexo do Alemão em que Tim Lopes foi barbaramente torturado e assassinado pelos traficantes. 

Quintella conta que teve que superar seus traumas para ir pela primeira vez ao local em que o pai foi executado: “Sabia que ia chegar o momento em que seria necessário fazer isso, mas foi difícil. Não é possível descrever o que senti. De certa forma, tive um contato com o meu pai. Foi um momento meu e dele.”

Quintella lembra que no dia seguinte foi à Vila Cruzeiro, já que uma das ideias era reproduzir os últimos passos de Tim Lopes. “Voltar às ruas que o meu pai percorreu foi tenso. Um carro ficou rondando a equipe e alguns moradores sugeriram que era melhor sairmos do local”.

As visitas aconteceram em 2012, quando os complexos da Penha e do Alemão estavam em processo de pacificação. Quintella lembra que, mesmo após 10 anos da morte do pai, grupos de moradores não queriam comentar o tema.

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