Rio - O complicado enredo da briga judicial pela guarda de dois adolescentes entre a mãe brasileira e o pai norueguês — trama que se arrasta por uma década — teve mais um importante capítulo. Em um almoço ontem à tarde, em um restaurante da Zona Sul, o pai, Tommy Bless, se comprometeu a desistir de uma disputa que chegou a colocar a mãe na lista de procurados da Interpol, ligada à Polícia Federal.
Apesar da promessa, a ex-jogadora de polo aquático Júlia Cavalcante, mãe de dois meninos, de 12 e 14 anos, ainda desconfia que o caso sofra mais uma reviravolta. “Ele disse que ia fazer o possível para que nada mais acontecesse. Mas, por ter me enganado antes e sequestrado os meus filhos, é difícil acreditar nisso”, afirma Júlia.

Em 2004, após o fim do casamento, na Noruega, Júlia voltou com os filhos ao Brasil. Apesar do rompimento, Tommy veio ao país. Em dezembro daquele ano, com o pretexto de levá-los num passeio a Búzios, o pai viajou com as crianças para a Noruega. Julia se mudou para o país de origem do ex-marido para travar uma briga judicial pela guarda das crianças. Mas só obteve o direito de visitá-los a cada 15 dias.
Em outubro de 2006, conseguiu deixar o país com as crianças até a Alemanha. De lá, viajou ao Brasil e entrou na lista da Interpol. “Eu nunca senti tanto medo na minha vida. Mas precisava fazer aquilo para ficar com os meus filhos”, lembra. Com processos judiciais em dois países pela guarda dos filhos, Júlia passou a se esconder até mesmo da polícia para evitar a extradição.
Em 2009, em Niterói, entrou na casa da mãe pela mata para pegar as crianças e despistar policiais federais, que estavam em frente ao imóvel, com mandado de busca e apreensão. Em dezembro passado, usou uma cama-baú como esconderijo para os meninos no apartamento onde mora, em Pilares. Agora, espera parar de se esconder e encontrar um final feliz a uma história de sofrimento e luta.

Convenção de Haia não favorece mãe
Advogado de Júlia, Mateus Terra diz que os dois lados deverão se reunir para traçar os detalhes do acordo — e em que termos se dará a guarda dos pais. “Ainda não marcamos a data, mas deverá ser já nesta semana. Em seguida, vamos apresentar o documento à Justiça Federal”, explicou ele ao DIA.
A guerra jurídica começou no Brasil em 2006, na primeira instância da Justiça Federal, tendo a Advocacia-Geral da União contra a brasileira e a favor do pai norueguês. “O Brasil é signatário da Convenção de Haia, que determina a devolução da criança ao país de origem”, explica Terra. Isso fez com que Júlia perdesse em todas as instâncias — até no STF — tendo o seu país contra si.
“O Estado brasileiro poderia ter evitado todo o nosso sofrimento, se tivesse me dado apoio logo após o sequestro dos meus filhos”, conclui.