Rio - Assim como Neymar, Oscar, Julio Cesar e companhia suaram a camisa em Fortaleza, muitos cariocas tiveram que bater ponto e ir ao trabalho, ontem à tarde, mesmo enquanto a maior parte da população torcia e vibrava a cada ataque da Seleção. Sem poder assistir ao jogo pela TV, alguns deles contaram como é estar na ‘contramão da História’.
Silvano Morais, 52 anos, é despachante dos ônibus da empresa Expresso Pégaso e sua visão durante o jogo era diferente da maioria dos cariocas. Durante os 90 minutos da partida não viu nada além de uma pouco movimentada Avenida Chile, no Centro. Segundo ele, em 23 anos de profissão, trabalhou em todos os dias de jogos do Brasil em Copas do Mundo.
Em 17 de julho de 1994, porém, resolveu chegar mais cedo ao serviço. “Consegui sair a tempo de ver o Baggio chutar o pênalti para fora e o Brasil ser tetracampeão do mundo”, lembra Silvano, falando sobre a final da Copa do Mundo de 1994, quando o Brasil venceu a Itália nos pênaltis e conquistou o tetracampeonato nos Estados Unidos.
Nesta terça-feira, Silvano estava desolado pelo fato de não poder acompanhar a família no churrasco que foi realizado em Campo Grande, bairro da Zona Oeste onde mora. Mesmo assim, sentia que, em sua função, estava ajudando a cidade.
“Já me acostumei a não ver Copa do Mundo. É meu dever ficar aqui e ajudar na mobilidade da cidade. O mundo todo está aqui. Se eu falhar, posso prejudicar a imagem do país”, diz Silvano, consciente da importância de sua função. Ele não é grande fã de futebol — torcedor do Fluminense, disse que acompanha o clube sem fanatismo. O cenário muda quando o assunto é a seleção brasileira. “Se nós formos hexacampeões, minha família irá me avisar. E eu estarei aqui sozinho, comemorando muito”, resume, sem firulas.
Um dia de trabalho dobrado
O posto de trabalho de Úrsula de Souza, 30 anos, pode ser privilegiado para fãs do futebol, já que fica perto de uma das entradas do Maracanã. Ela trabalha no atendimento aos turistas num quiosque de informações montado no estádio e também não pode assistir ao jogo desta terça.
“Contra a Croácia também fiquei aqui, sem rádio ou TV. Meus parentes e amigos avisaram por mensagem de texto quando o Brasil marcou os gols”, disse ela, que, mesmo nervosa, parou de checar o telefone para atender um francês, que pedira informações.
A temperatura estava quente em campo e no Bar e Padaria Vilarejo, em Vila Isabel, que recebeu dezenas de clientes durante o jogo. O chefe de cozinha Luiz Gonzaga, 50, se desdobrava para atender aos pedidos. “Para muitos, é dia de comemoração. Para mim, é de trabalho dobrado”.