Rio - Quando o zagueiro camaronês Matip invadiu a área brasileira para marcar o gol de empate contra a seleção brasileira no primeiro tempo, os 20 mil torcedores do Fifa Fan Fest, em Copacabana, ficaram em silêncio. Naquele instante, os irmãos Abraham Konaté, de 38 anos, e Youssouf Konaté, de 40, saborearam um breve momento de comemoração, em meio à massa de brasileiros.
Mas a alegria acabou quando Neymar desempatou o jogo. Com o sorriso desfeito, o camaronês Youssouf Konaté suspirou duas sílabas, já conhecidas entre os fãs de futebol que acompanham o Mundial: “Neymar”, disse, em reconhecimento ao talento do camisa 10 rival.
Filhos de pais camaroneses, Abraham e Youssouf nasceram na França. Mas o coração deles pertence à seleção africana. Uma paixão fortalecida quando eles ainda eram adolescentes e viram o veterano centroavante Roger Milla surpreender o mundo do futebol na Copa de 1990, na Itália.
Os irmãos Konaté se despediram da seleção camaronesa. Mas continuam com o espírito da Copa. Agora, torcendo pelos franceses. “Estou adorando a Copa. As pessoas têm muito amor pelo esporte”, disse Abraham, que foi à África do Sul para assistir à última Copa, há quatro anos.
Com a camisa 9, que pertence ao astro camaronês Samuel Eto’o, e a bandeira do país tingida com tinta no rosto, o engenheiro Franklin Mbema, de 34, não escondeu a decepção com a eliminação precoce do seu país de origem. “Faltou patriotismo aos jogadores”, criticou. Mas a derrota não ofuscou a euforia com o Mundial: “É incrível vir ao Brasil e testemunhar o entusiasmo das pessoas com o futebol”, sorriu.
Ingleses dão apoio aos africanos
Não foram só os camaroneses que vestiam a camisa da seleção africana ontem. Para o turista inglês Richard Latham, de 26, o apoio tem um motivo bem simples:
“Estou torcendo por Camarões porque a Inglaterra está fora”, justificou.
Togo não se classificou para o Mundial. Mas isso não inibiu os irmãos David e Daniel Edoh-Bedi, que torcem para todas as seleções africanas. Para eles, a derrota dos camaroneses ficou em segundo plano, porque o importante era estar no Brasil durante a Copa. “O futebol é como uma religião em Togo. E o Brasil é a terra do futebol. Estar aqui é uma oportunidade única”, comentou David.
O inglês Lee Green, de 43 , tinha motivos mais fortes para torcer pelos africanos.
“Vim apoiar a Inglaterra. Mas Camarões ocupa um lugar muito especial no meu coração. Viajei para lá há quatro anos e fiz muitos amigos. A partir de agora, torço para o Brasil”.