Rio - A classificação do Brasil valeu até música especial para a Seleção. Mesmo com a barulheira em volta, o músico Salobinho da Bahia, 51 anos, levou seu violão. “Compus uma música especialmente para a Seleção”, contou ele. Antes do jogo, quando ainda era possível ouvir os acordes tocados em seu instrumento acústico, ele cantava numa marcha lenta: “Quem é o craque com a bola no pé / É Neymar, é Neymar / Quem é que lembra o Rei Pelé / É Neymar, é Neymar”. Após os dois gols do seu ‘muso inspirador’, ele prometeu outras composições: “Até o final da Copa, sai mais”. Vale tudo no Alzirão para festejar.
Outro que chamava atenção no meio da multidão era José Geraldo da Silva, 54, com sua exótica fantasia em homenagem à natureza brasileira’. “Há 16 anos anos que coloco essa mesma roupa. Todo dia é Carnaval para mim”, contou o animado torcedor, coberto por folhas e bichos de plástico no Alzirão. Após a partida, ele era puro otimismo. “Hoje Neymar fez dois. Contra o Chile, vão ser três”, aposta.
Para acompanhar os dribles do atacante da Seleção, o pequeno Marco Antônio, de 4 anos, precisava do apoio dos ombros do pai, Rosiel dos Santos, 30. Durante o jogo, ele elogiava o desempenho do zagueiro David Luiz. “Ele defende muito bem”, disse o garoto.
Diante da goleada de 4 X 1 contra Camarões, os torcedores festejaram a classificação em primeiro lugar no grupo para a próxima fase abusando da criatividade. Choro, gritos e muita alegria marcaram as festas pela vitória. O reduto mais frequentado, a Fifa Fan Fest, teve lotação máxima: 20 mil pessoas nas areias de Copacabana.
A falta de espaço para o público não impediu que outros 15 mil torcedores acompanhassem cada lance da partida do lado de fora, vibrando com as imagens exibidas pelo telão. Sonhando com uma final épica entre Brasil e Argentina, a família Montez, moradora das proximidades, se mostrava empolgada. “Quero ver a final com os argentinos porque vai ser emocionante competir com os ‘hermanos’. Tenho certeza que levamos essa”, afirmou a professora de patinação Andrea Montez, 40 anos, apoiada pelo filho Luigi, 10, apresentador de programa infantil.
O marido dela, o produtor artístico Marcos Tadeu, 50, passou a a partida inteira abraçado à bandeira, que usa como amuleto em todos os jogos. “Foi um jogo emocionante, nunca senti nada igual”, disse ele. Longe da Fifa Fan Fest, outro reduto de torcedores na Copa, o Alzirão, na Tijuca, voltou a ficar lotado.
Bastou o juiz apitar o fim do jogo para a bateria da Unidos da Tijuca embalar a festa dos 12 mil torcedores que compareceram à Rua Alzira Brandão para sambar até o dia raiar.
Estrangeiros engrossam coro pró-Seleção
A torcida verde e amarela, que tomou as areias de Copacabana ontem, não era só de brasileiros. Americanos, chilenos e até camaroneses engrossaram o coro a favor da Seleção. Os amigos Valentine Fombu, de 33 anos, e John Fru, 44, de Camarões, vibravam a cada gol do Brasil.
“Não tem como competir com esta linda torcida brasileira. Já que perdemos a Copa, nossa seleção de coração será o Brasil”, contou John, que, ao lado de Valentine, aplaudiu a performance de Neymar. “Ele é muito bom e vai levar o Brasil para a final com certeza”, afirmou Valentine.
Além de torcer para a Seleção, o americano Tony Padilla, 24, foi além: pintou o rosto com a bandeira do Brasil. “Este país tem uma energia tão contagiante que dá vontade de ser brasileiro de verdade”, brincou o jovem.
Os chilenos também estavam animados com a vitória brasileira. “Depois do Chile, minha torcida é para o Brasil. No próximo jogo não ficarei tão triste se os brasileiros ganharem”, brincou Carlos Touri, 31, que vestia a camisa do Brasil.
Personagens famosos
Criatividade não faltou aos torcedores brasileiros nas areias de Copacabana. Na Fifa Fan Fest, ontem, tinha desde Michael Jackson até Carmem Miranda. Quem não estava fantasiado, caprichou nos acessórios para chamar atenção, como a copeira Luiza de Souza, de 57, que foi com uma armação amarela e azul da fantasia de carnaval da Beija-Flor deste ano.
“Peguei tudo no lixo depois do desfile e guardei com carinho, pois sabia que iria usar em um momento especial”, contou.
Vestido de preto e prata e com o tradicional chapéu preto de Michael Jackson, o morador de Itaboraí Roberto Luiz Braga, de 46, foi a sensação da praia quando arriscou os passos do cantor americano. “O Michael sempre me dá sorte e nos jogos não será diferente”, declarou Roberto, que também dançou ao lado da Carmem Miranda, representada pela doméstica Aline da Silva Capela, de 54. “Nada mais brasileiro do que a Carmem. Ficarei encarnada nela até o fim da Copa”, brincou Aline.