Rio - Não dá para negar que Copacabana sempre teve uma vocação para a boêmia, mas com o grande número de turistas estrangeiros que chegaram ao Rio para a Copa, dia e noite se misturam na orla do bairro mais famoso do Brasil. O movimento nos quiosques vai até altas horas da madrugada. Em média, os quiosques abrem às 9h e fecham às 2h. Mas no Posto 2, local onde está fincada a Arena Fifa Fan Fest, alguns deles funcionam 24 horas.
“O movimento está igual ao do Réveillon, com a diferença que agora é todo dia de casa cheia. Estamos trabalhando direto, mas ninguém reclama, já que os turistas dão gorjetas”, diz Antônio Carlos Silva, funcionário de um quiosque.
Com a extensão de horário e o movimento bem maior do que o habitual, os comerciantes não têm mesmo do que se queixar. De acordo com Atilano Neto, dono do Costello, quiosque no Posto 3, da Avenida Atlântica, nunca se vendeu tanta caipirinha como agora.
“Meu faturamento aumentou 300%. Entre os dias 13 e 28 de junho, vendemos 4.900 caipirnhas (cada uma custa R$ 10,90). O inverno está bem melhor do que o verão”, diz o comerciante, que fecha as portas às 2h da manhã.
O movimento só é comparado ao da noite de 31 de dezembro, quando Copacabana recebe dois milhões de pessoas.
“É como se estivésssemos tendo um Réveillon por dia”, garante Neto. Para dar conta da demanda, o comerciante precisou contratar quatro funcionários extras para se somarem à equipe fixa de 15 pessoas. A atendente Viviane Martins, que está trabalhando apenas no período do Mundial, comemora o movimento. “Os turistas dão boas gorjetas. No dia mais fraco, tirei R$ 80. Normalmente, ganho entre R$ 100 e R$ 200 de gorjeta por dia. Quero uma Copa todo ano”, vibra a garçonete.
Chilenos, colombianos e holandeses são os turistas que mais marcam presença no quiosque e, consequentemente, mais consomem caipirinha. “Eles bebem muito. Nove horas da manhã, já tem gente pedindo caipirinha”, entrega Atilano Neto.
Gringo usa critividade para poupar
E os turistas vêm encontrando formas criativas em busca de economia. Para comprar os ingressos para todos os jogos de sua seleção, o colombiano Andres Belez, 30, teve que abrir mão do conforto. Ele dormiu na areia, com mais quatro amigos, depois de viajar 28 horas de ônibus de Cuiabá ao Rio. Conterrâneos de Belez, Edwin Amaga, 38, e Andrea Avila, 32, optaram por se hospedar em um albergue. “É mais barato”, diz Amaga. “Compramos limão e cachaça para fazermos uma caipirinha. Vamos comemorar a vitória sobre o Brasil, com gol do James Rodríguez. Dizem que James é o Neymar colombiano, mas é o contrário, o Neymar é que é o James brasileiro”, brinca o colombiano Jasset Usta.
?Congelados desaparecem
Nesta fase de mata-mata, as seleções se despedem da Copa do Mundo na mesma velocidade com que alguns produtos somem das prateleiras dos supermercados. E é por isso que a moradora de Copacabana Cristiane Rodrigues, de 32 anos, comemorou quase como um gol o fato de ter conseguido comprar comida congelada, após dois dias de procura. Não é para menos: a lasanha e o escondidinho de carne estão cada vez mais valorizados na região que recebe o Fifa Fan Fest.
A Copa também vem obrando milagre, como a multiplicação dos pães. Em um supermercado da Rua Siqueira Campos, a fabricação aumentou 66%, chegando a cinco mil por dia, desde a estreia do Brasil, dia 12 de junho.
E se para chilenos, uruguaios e mexicanos o sonho acabou nas oitavas de final, o mesmo aconteceu para o brasileiro Éverton Sales, 33. O dono da padaria Doce Café viu não só os sonhos mas também os croissants e os pastéis acabarem muito antes do previsto. Por isso, o empresário teve que fechar as portas mais cedo, no sábado. “Tenho hoje 14 funcionários, três deles contratados para o Mundial. Mesmo assim, não está sendo suficiente para esse aumento absurdo de demanda. A loja fica cheia o dia todo”, comemora, após servir um grupo de alemães e holandeses.
Reportagem: Regiane Jesus