Por paulo.gomes

Rio - Um recepcionista do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) — que junto de outros nove funcionários do hospital foi indiciado na sexta-feira por homicídio doloso (quando há intenção) pela morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, em junho — contou em depoimento que, enquanto os acompanhantes tentavam socorro para a vítima, ele ajudou o pai de um colega de infância a conseguir atendimento para uma dor na nuca.

Nesta segunda-feira, o inquérito foi entregue ao Ministério Público, que tem prazo de até 15 dias para oferecer ou não denúncia contra os suspeitos. Entre eles estão o diretor-geral do INC, José Leôncio de Andrade Feitosa, três outros diretores, atendentes e vigilantes.

Luiz Cláudio foi levado ao instituto por um motorista de ônibus, que recebeu orientação de ligar para o SamuReprodução Facebook

Para o delegado da 9ªDP (Catete), Roberto Gomes, responsável pelas investigações, o depoimento do recepcionista é apenas um dos indícios de que os suspeitos tinham ciência dos riscos.

“Eles assumiram o risco de um resultado que era previsível. A vítima ficou 13 minutos sem que qualquer pessoa do hospital fosse lá. Essa ordem contraria os preceitos da Medicina e os diretores atraíram para si esta responsabilidade”, disse o delegado.

Entre as provas anexadas ao inquérito estão dois documentos que ficavam na recepção. Um deles informava que não era possível o atendimento na unidade de pessoas não cadastradas. A cópia de um outro registro de ocorrência, de 2012, também foi anexada aos documentos. Na ocasião, um senhor de 79 anos morreu no INC após ficar quatro horas sem atendimento.

Funcionários contaram que eram repreendidos quando realizam algum tipo de triagem para atendimento emergencial. O próprio diretor geral teria afirmado na delegacia que havia uma ordem extraoficial para recusar estes pacientes.

No dia 2 de junho, Luiz Cláudio foi levado para a unidade, referência no tratamento de doenças do coração, por um motorista de ônibus após sofrer um princípio de ataque cardíaco no coletivo. No entanto, os seguranças do hospital, que faziam a triagem, orientaram as pessoas à ligar para o Samu. Ele não resistiu.

Dez pessoas acusadas

Além do diretor, foram indiciados Marcia Maria Barbeito Ferreira, Cynthia Karla Magalhães, Celso de Cunto Junior, José Souto da Silva, Ronaldo José Antônio, Isac Souza dos Santos, Patrick Eduardo Oliveira dos Santos, Victor Ramos de Oliveira e Adriana Quintanilha da Silva. “Mesmo sabendo que nada vai trazer meu pai de volta, esperamos por justiça”, disse o empresário Vítor Marigo.

Através de nota, o Instituto Nacional de Cardiologia informou estar à disposição do Ministério Público na apuração da morte do fotógrafo. O órgão ainda reiterou, com base em sua apuração interna, que não identificou omissão de socorro à vítima.

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