Por bferreira

Rio - Um provável erro da Comissão Nacional da Verdade causou constrangimento ontem durante depoimentos de agentes da repressão. A identificação do coronel Freddie Perdigão Pereira, já morto, ao lado do carro onde morreu a estilista Zuzu Angel em 1976 pode estar errada.

o ex-agente da repressão Jurandy Ochsendorf e Souza permaneceu calado durante depoimento à Comissão Nacional da VerdadeFabio Gonçalves / Agência O Dia

“O açodamento de alguns declarantes acaba induzindo em erro o trabalho da comissão como, por exemplo, no caso da fotografia do coronel Perdigão. Senhor presidente, não é ele na fotografia. Isso foi um erro histórico”, disse o advogado Rodrigo Roca, que defende acusados de tortura e assassinatos durante a ditadura.

Ele alegou que ouviu de vários militares que o oficial não está na foto divulgada pela comissão. Roca é advogado de réus no assassinato do deputado Rubens Paiva, em 1971, e do atentado do Riocentro, em 1981.

Na semana passada, o ex-delegado Claudio Guerra, colaborador confesso da ditadura, msotrou a integrantes da CNV uma foto do jornal O Globo feita logo após o acidente que matou Zuzu. Segundo Guerra, o coronel Perdigão é o homem que, na imagem, observa o corpo e seria um dos responsáveis pela morte da estilista.

Zuzu era mãe de Stuart Angel, líder do grupo MR8, desaparecido em maio de 1971. Ela usou sua coleção de roupas para denunciar a morte do filho sob tortura em desfiles no exterior.

O DIA mostrou a foto a Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis e que foi torturada por Perdigão. Ela não reconheceu o agente. Um sargento que s trabalhou com Perdigão e que não quis se identificar também não identificou o agente na imagem.

O coordenador da CNV, Pedro Dallari, alegou que a posição dos militares é contraditória já que eles se negaram a falar, mas apontam erro no depoimento do ex-delegado Claudio Guerra. “É uma manifestação completamente contraditória. Se há erro, ele só pode ser corrigido com depoimentos e elementos, não com o silêncio”, afirmou Dallari.

CERQUEIRA CONTESTA

Outro que contestou o trabalho da CNV foi o general reformado Nilton Cerqueira, que classificou de “absurda” a investigação do atentando do Riocentro. Comandante da PM em 1981, ele é suspeito de suspender o policiamento perto do local onde se realizava o show de 1º de maio para facilitar a ação dos militares.

Cerqueira se recusou a responder as perguntas e afirmou apenas “nada a declarar”. O mesmo fizeram os capitães e irmãos Jacy e Jurandy Oschendorf e Souza, citados nos documentos que descrevem a falsa fuga de Rubens Paiva do DOI-Codi.

Delegado conheceu Malhães

Outro suspeito de sessões de torturas, o ex-titular da Delegacia Regional de Petrópolis Mauro Magalhães, apontado como um dos que colaboravam com os militares na Casa da Morte, na cidade serrana, negou conhecer o local. “Não sei nem onde fica”, disse o policial ao depor.

Mas admitiu que conheceu o coronel do Exército Paulo Malhães, que confessou participar de torturas em Petrópolis e morreu em abril. Ele contou que os dois foram apresentados pelo comissário Luiz Cláudio Azeredo Viana, o Luizinho, identificado por Inês Etiene Romeu como Laurindo, um de seus torturadores.
O ex-delegado disse que Malhães esteve na delegacia de Petrópolis quatro vezes para “tomar um cafezinho” e que não tinha a confiança dos militares. “Iam me revelar o quê, que estavam matando, batendo e prendendo? Nunca fariam isso”, alegou o ex-delegado.

Silêncio prejudica a investigação

A dificuldade em obter informações de agentes que combateram a luta armada continua sendo um grande empecilho para o trabalho da Comissão Nacional da Verdade. Embora cinco dos oito convocados tenham ido ao Arquivo Nacional do Rio apenas o ex-delegado Mauro Magalhães não ficou em silêncio e concordou com a presença de jornalistas na sala enquanto prestava depoimento.

Os irmãos e capitães da reserva do Exército Jacy e Jurandyr Ochsendorf e Souza e o general Nilton Cerqueira, orientados por seus advogados, se recusaram a responder as questões. Eles justificaram as negativas dizendo que não queriam colaborar com “erros históricos”, como a divulgação da imagem que não seria do coronel Perdigão.

Além disso, o advogado Rodrigo Roca disse que agentes que falaram com a CNV depois acabaram denunciadas pelo Ministério Público Federal.

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