Por thiago.antunes

Rio - Jornalista, escritora, blogueira, poeta, amante de literatura e fã de Fernando Pessoa e da música de Frank Sinatra. Maria Rozane Siqueira Monteiro era muitas em uma só. Ontem, aos 47 anos, para imensa tristeza de familiares e amigos, ela colocou um ponto final à sua brilhante trajetória, deixando de luto o jornalismo. Profissional dedicada, experiente e muito querida nas redações cariocas, Rozane Monteiro passou a maior parte da carreira no DIA, onde por 14 anos comandou as editorias de Polícia e Política. Atualmente, trabalhava na cobertura das eleições pelo jornal ‘Extra’.

Rozane Monteiro%2C de 47 anos%2C produziu reportagens históricas Márcio Mercante / Agência O Dia

A morte dela foi profundamente sentida por amigos e políticos, como o governador Luiz Fernando Pezão. “Sensível e inteligente. Assim era a querida Rozane. As palavras sentirão falta do seu talento, humor refinado e irreverência, e as redações, de sua adorável companhia. Meus sentimentos de paz e conforto à família e amigos.” O prefeito Eduardo Paes lembrou que Rozane combinava faro jornalístico e apuração rigorosa com senso de humor e uma ironia particular. “Suas crônicas eram leitura obrigatória. A imprensa carioca perde uma grande jornalista. Desejo paz e conforto à sua família”, disse Paes.

Na redação do DIA, o clima é de tristeza. “O raciocínio rápido, o texto atrevido e o humor refinadíssimo faziam de Rozane, com suas ‘rozanices’, uma das mais brilhantes repórteres de política do Rio. Trabalhar com ela foi um grande privilégio. Merecer sua amizade, maior ainda. A morte de Rozane deixa em todos nós um vazio e uma tristeza que nem ela, com sua escrita hábil e certeira, daria conta de traduzir. Estamos todos de luto”, declarou o diretor de Redação do DIA, Aziz Filho.

Espirituosa, chegou a esboçar escrever o próprio obituário em um de seus blogs, ‘O dodói da doida’, em 2011, após o tratamento de um aneurisma. “Será que o meu próprio obituário chegou a ficar pronto? Estando eu, editora, morta, quem editaria minha biografia uma vez que a pessoa mais do que indicada pra corrigir certas incorreções, estaria, digamos, impedida?”, brincava a jornalista.

Em 2002, foi uma das 10 jornalistas contempladas pelo World Press Institute, com bolsa de estudos em Minnesota (EUA). Dois anos depois, se mudou para República Tcheca. Na Europa, cobriu datas históricas, como a morte do Papa João Paulo II, na Polônia, e denunciou a perseguição a homossexuais no Irã pelo governo de Mohamed Ahmadinejad.

De volta ao Brasil, foi editora de Internacional do JB. Criou blog que originou o livro ‘Sua Excelência, o Canalha’, que contava, de forma divertida, as agruras das relações afetivas. O Sindicato dos Jornalistas do Rio lamentou sua morte e se solidarizou com a família. O sepultamento será em Minas Gerais, ainda sem data definida. Este ano, no e-mail em que se despediu dos colegas, após sua saída do DIA, Rozane deixou um recado, quem sabe, prevendo o futuro: “Desculpa o susto aê. Hasta la vista, babies.”

Respeito mútuo

Rozane Monteiro sempre fez questão de tratar os políticos com respeito. Ontem, alguns parlamentares que ela entrevistou com maestria lamentaram a perda daquela que consideram uma das maiores jornalistas de política do Rio.

“Conheci Rozane na década de 1980, em Niterói. Ela conhecia os caminhos, tinha um ótimo olhar. Sempre tivemos uma relação de muito carinho e amizade”, disse o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). A também deputada estadual Cidinha Campos (PDT) elogiou a jornalista. “Era uma pessoa fantástica , imparcial. Seu texto era muito divertido.”

O vereador Cesar Maia (DEM), que foi um dos políticos que Rozane mais entrevistou, resumiu sua tristeza em poucas palavras. “O jornalismo político tem alma. Rozane é a alma desse jornalismo.” “Foi uma surpresa. Na última vez que me entrevistou, ela estava entusiasmada com o trabalho, feliz com a vida. Só posso desejar conforto aos amigos e familiares”, disse o deputado federal Anthony Garotinho (PR).

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