Por thiago.antunes

Rio - Um patrimônio que ninguém sabe dizer ao certo qual o total, mas que compreende uma centena de imóveis em áreas nobres da cidade, inúmeros terrenos, além de 13 cemitérios, seis hospitais, oito creches, dois colégios e uma fundação. Tudo isso está no centro do interesse de dois grupos que estão brigando feito cães e gatos para administrar a Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

De um lado, o procurador aposentado Jorge Vacite, ex-mordomo contencioso da instituição, que pertence ao grupo do ex-provedor Dahas Chade Zarur, suspeito de ter cometido uma série de irregularidades em sua gestão. Do outro lado, o grupo que defende a permanência do atual provedor Luiz Fernando Mendes de Almeida, no cargo desde o dia 30 de agosto do ano passado, após o afastamento de Zarur.

O provedor Luiz de Almeida%2C rival do grupo do ex-provedor Dahas ZarurFernando Souza / Agência O Dia

Até mesmo uma assembleia foi convocada irregularmente para forçar uma nova eleição para escolher o novo provedor da instituição. O que ambos os grupos parecem esquecer é que em meio a toda a confusão estão pacientes que precisam de atendimento médico e ficam à mercê do descaso em que se encontra a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro que, inclusive, perdeu seu certificado de instituição filantrópica e foi descredenciada do SUS (Sistema Único de Saúde) ainda na gestão de Zarur.

Atual gestão tenta levantar verbas e aguarda ajuda do estado

Atualmente, a Santa Casa atende 120 pessoas por dia, sendo que metade desse atendimento vem de um convênio com a prefeitura e a outra metade, das consultas a preços populares e atendimento gratuito. Não há internação, as enfermarias foram interditadas pela Anvisa, não se faz mais cirurgias e o retrato é de abandono e descaso. Se estivesse funcionando plenamente, o atendimento chegaria a 400 pessoas, além de 700 leitos.

Para a psiquiatra Fátima Vasconcelos, uma das diretoras médicas da Santa Casa, a briga entre os dois grupos não atrapalha em nada a evolução do atendimento clínico. “Contamos com um dos melhores corpos clínicos do Rio de Janeiro. O que precisamos é de dinheiro para readaptar a Santa Casa e devolvê-la em sua plenitude à população”.

Leitos da Santa Casa de Misericórdia foram interditados pela AnvisaFernando Souza / Agência O Dia

Nesse sentido, a gestão atual está tentando levantar recursos. Existe a promessa de ajuda do governo estadual e uma parceria com a Universidade Estácio de Sá está prestes a ser fechada, o que garantiria um adiantamento de até R$ 4 milhões, valor que seria utilizado para adequar as enfermarias às normas da Vigilância Sanitária. Mas até agora, nada de concreto, apenas promessas e mais promessas.

Dois candidatos e uma eleição que não aconteceu

A tal eleição que havia sido marcada irregularmente para a tarde de ontem não aconteceu. Uma liminar, concedida pelo desembargador Marcelo Anatócles, adiou o pleito. Para que haja eleição, é preciso que pelo menos um quinto da irmandade assine a convocação. A assembleia foi convocada por Jorge Vacite, do grupo de Zarur, e apenas três irmãos assinaram o documento. Já Vacite alega que com a renúncia de Zarur uma nova convocação deveria ser feita e que o atual provedor está acomodado em cima do cargo.

Vacite entrou para a irmandade quatro meses antes de Zarur assumir seu último mandato. No dia 31 de julho, três semanas após ter estourado o escândalo com o nome de Zarur, Vacite foi nomeado mordomo contencioso da Santa Casa. Menos de três meses depois, ele renunciou e desde então representa civil e criminalmente Zarur contra a Santa Casa. 

Já o atual provedor, Luiz Fernando Mendes de Almeida, trabalhou durante anos ao lado de Zarur. Ano passado, logo após ter assumido o cargo, deu uma entrevista em que disse se sentir envergonhado de ter integrado a antiga diretoria.

Reportagem de Márcio Allemand

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