Por adriano.araujo

Rio - Em meio ao aumento do fluxo de refugiados de vários países que procuram o Brasil como abrigo, o Rio de Janeiro coloca em prática uma posição pioneira. A Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou semana passada um plano inédito em todo o país que permite formalizar políticas de atendimentos a refugiados.

Idealizado nos últimos dois anos em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, o Ministério Público e a Defensoria Pública, o documento coloca o estado em posição de cumprir uma importante etapa no processo de implementação das ações humanitárias, garantindo direitos, proteção, amparo e promoção da dignidade humana àqueles que solicitarem refúgio. De domingo a quarta-feira O DIA publicou uma série de reportagens sobre as dificuldades de refugiados de várias origens no Brasil.

Segundo a Cáritas Arquidiocesana, entidade responsável pelo recebimento desses estrangeiros no Brasil, houve um aumento de 285% no número de chegadas de refugiados entre 2010 e 2014. Só este ano, até junho, 1.542 refugiados ingressaram no país. Destes, 307 chegaram no Rio. “Quando o estado começa a assumir sua responsabilidade, isso se transforma num marco muito importante, num compromisso com a vida dessas pessoas que chegam no Brasil”, diz a coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas do Rio de Janeiro, Aline Thuller.

Charly Congo (E) contou sua história no lançamento do programa e agradeceu pelo apoio obtidoDivulgação

Para Patrícia Waked Pontes, coordenadora política de atuação aos refugiados no Rio, o aumento do fluxo de refugiados no Brasil se deve muito à estabilidade e à projeção internacional do país, principalmente com os grandes eventos como Olimpíadas, Copa do Mundo e exposições. “O mundo está vendo a mudança da nossa situação, o crescimento econômico do Brasil e isso abre espaço para que eles optem por vir pra cá”, analisa.

O plano lançado na sexta-feira tem seis principais eixos nos quais são discutidas as melhores formas de se criar um ambiente para que essas pessoas, chegando ao Rio, possam se integrar à sociedade: documentação, educação, emprego e renda, moradia, saúde, e ambiente sociocultural.

“Nesse momento a gente se iguala à Europa e aos Estados Unidos. O Rio tem um avanço na política humanitária”, conclui Patrícia. Outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul preparam planos e estão usando como base o documento lançado no Rio de Janeiro.

Nascido na África, Charly Congo emociona a todos

?No Brasil há seis anos, Charly Congo é um dos refugiados que chegaram aqui depois de sofrerem na pele as mazelas de uma guerra tribal na África. Viu os horrores de massacres entre seus familiares e resolveu tentar uma outra vida longe de suas raízes.

No lançamento do Plano Estadual de Políticas de Atenção aos Refugiados do Rio de Janeiro, seu depoimento emocionou a quem estava presente.

“Cheguei aqui sem dinheiro e sem saber falar nada de português. A gente vem com a roupa do corpo”, relatou o jovem de 34 anos, natural da República do Congo. Hoje, passados seis anos, trabalha como mensageiro em um hotel em Copacabana, cursa ensino superior, fala três idiomas (inglês, francês e português) e tem um filho de poucos meses, fruto de relacionamento com uma brasileira.

“Fui muito bem acolhido aqui. Os brasileiros me deram comida, roupas e lençóis. As pessoas sempre foram muito boas para mim”, diz. Ele só reclama de uma das barreiras que enfrentou: o preconceito. “Cheguei a ser confundido com um traficante”, revelou Charly Congo. Apesar disso, agradeceu ao governo brasileiro por ter lhe dado condições de trabalhar, tirar documentos e refazer sua vida.

Solidão e até exploração

?O Brasil que desponta como uma nova rota para os refugiados foi tema de uma série de reportagens publicada pelo DIA na semana passada.

As matérias revelaram a realidade encontrada por estrangeiros que chegam ao nosso país em condições muitas vezes precárias, em busca de reconstruir suas vidas longe dos países de origem, de sua cultura, de seu povo.

No topo do ranking dos que procuram abrigo aqui estão os sírios, com 1.378 refugiados reconhecidos pelo governo federal, seguidos pelos colombianos, com 1.236 casos. O destino preferido por eles é São Paulo, com 403 novos casos só em 2014.

As reportagens mostraram a exploração de haitianos como mão de obra barata no sul do país, e os que entram no Brasil pelo Acre desde meados de 2012. Além disso, a solidão de quem teve que se separar da família.

Reportagem de Marcio Allemand

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