Por thiago.antunes

Rio - Pelo segundo dia consecutivo nesta semana, três creches e quatro escolas do Complexo da Maré foram impedidas de abrir as portas, ontem, por ordens do tráfico de drogas, deixando 5.196 alunos sem aula. Mas, de acordo com professores do conjunto de favelas, o número real de estudantes ociosos pode ter sido ainda maior. Há denúncias de que as unidades também teriam voltado a sofrer saques e ser usadas como trincheiras na guerra entre bandidos e homens da Força de Pacificação Militar.

Exército ocupa a Maré%2C mas não impede a atuação de traficantesSeverino Silva / Agência O Dia

Segundo educadores de algumas das unidades que se mantiveram abertas, os diretores levaram em conta o número mínimo de dias letivos exigidos por lei para contabilizar o expediente, mesmo com a certeza de que nenhum aluno compareceria.

Professores teriam sido obrigados a registrar presença, mas nenhum livro foi aberto, já que os pais foram ameaçados de surras, caso levassem os filhos às aulas.

Os familiares dos estudantes, por sua vez, afirmam que o temor vivido na região ocupada pelas Forças Armadas, há quase seis meses, não se restringe ao impedimento das aulas. Desde o último sábado, quando traficantes da facção Amigo dos Amigos (A.D.A.) tentaram tomar o controle de bocas de fumo controladas pelo Terceiro Comando Puro (TCP), o cenário lembra o vivido antes da entrada do Exército.

Segundo moradores e pessoas que trabalham na Maré, criminosos teriam voltado a andar armados por localidades como a Nova Holanda e a Baixa do Sapateiro. Na segunda-feira, a dispensa do refeitório do Ciep Samora Machel, na Baixa do Sapateiro, foi arrombada e 27 quilos de frango roubados, deixando jovens sem merenda, de acordo com as denúncias.

Os saques, segundo professores, teriam se extendido a materiais didáticos e eletrônicos,como computadores e projetores. “Tem sido insuportável trabalhar por aqui. Os índices de evasão só têm aumentado”, disse uma professora. Na área da Baixa do Sapateiro, o Ciep Operário Vicente Mariano permaneceu fechado. A proibição também foi cumprida nas escolas Elis Regina, na Nova Holanda, e Paulo Freire, na Vila do João.

Questionada pela reportagem se alguma unidade havia feito denúncias das ameaças sofridas ou pedido aparato policial para funcionar, a Secretaria Municipal de Educação não respondeu. A rede estadual, por sua vez, informou que nenhuma de suas unidades chegou a ser prejudicada.

Sem prazo para a UPP da região

Questionada quanto a algum plano de aparato de segurança para normalização das aulas na segunda-feira, a Força de Pacificação da Maré não respondeu até o fechamento desta edição. Já a Secretaria de Segurança Pública, indagada quanto ao prazo para implantação da UPP da Maré, informou que “a Maré está sob responsabilidade do Exército”.

Para a coordenadora da ONG Redes da Maré, Eliana Silva, a solução para os recentes conflitos passa pela implantação de uma política sólida de segurança pública. “Porque este problema não ocorria no início da ocupação? “, questionou Eliana.

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