Por daniela.lima
Cálculos mostram que a cada uma hora e 20 minutos um motorista de caminhão de carga é feito refém por bandidos nas estradas do RioEstefan Radovicz / Agência O Dia

Rio - Junto com as milhares de carretas que cruzam o estado transportando itens importantes para a economia fluminense, trafega também o risco de ataques de quadrilhas especializadas em roubos de cargas. Cada vez mais audaciosos e violentos, os criminosos não se intimidam em fechar vias importantes e atacar motoristas com fuzis e metralhadoras em punho. Os comerciantes locais também são coagidos pelo bando: a apuração dos investigadores levantou que os donos de bares e lojas dentro da favela são obrigados pelos criminosos a comprar deles as cargas de cigarro roubadas. Dessa forma, parte do produto é revertida em dinheiro ali mesmo no reduto da quadrilha, sem levantar suspeita da polícia. 

Somente em setembro, o crime aumentou mais de 70% em relação ao mesmo mês de 2013, segundo levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP). O órgão ainda aponta que, nos nove primeiros meses de 2014, ocorreram 3.956 roubos de cargas. Pelo banco de dados da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) são feitos, em média, 20 registros de assaltos a caminhões por dia. Isso significa que a cada uma hora e 20 minutos um caminhoneiro é rendido em algum lugar do estado e a carga, roubada.

Foi assim na manhã de 16 de outubro, quando motoristas e ajudantes de três carretas de cigarros vindas de Minas Gerais se viram cercados pelo pesado armamento de mais de 20 bandidos do Complexo da Pedreira, na Pavuna. O bando conseguiu desviar os caminhões da rota, mas bateu de frente com uma patrulha do 41º BPM (Irajá), que chamou reforços para cercar o grupo. Em plena luz do dia, os assaltantes abriram fogo contra os PMs usando fuzis e pistolas, apreendidos depois junto com parte da carga. Os resultados da ação criminosa foram dois bandidos mortos e outros dois baleados, entre eles, Johnny Luis da Silva, o Bebezão, de 27 anos. Na última segunda-feira, dez comparsas do principal ladrão de cargas da Pavuna invadiram o Hospital Azevedo Lima, em Niterói, e o resgataram da custódia.

Além de Bebezão, outro alvo da polícia, que age diretamente com os roubos de cargas, é o traficante Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy. Chefe da quadrilha do Morro da Pedreira, na Pavuna, é ele quem fornece o armamento para o maior grupo de assaltantes desse tipo: seus comparsas.

Último remanescente do bando de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, um dos mais procurados ladrões de residência do Rio e morto há nove anos, Playboy mudou de ramo, mas ainda vê nos assaltos o meio mais fácil de obter um faturamento milionário. Por isso, cede o armamento pesado e toma dos ladrões boa parte do lucro dos roubos. Segundo a polícia, a quadrilha que se formou na Pedreira é a mais atuante e especializada em cargas. As investigações identificaram 13 membros do bando que mais aterrorizam motoristas. 

Pavuna lidera ranking de roubo a carga

O bairro da Pavuna, que também concentra um grande número de empresas e depósitos de cargas, é o campeão no ranking da polícia entre os registros de assaltos a caminhões, com 42 casos apenas em setembro. Na lista de locais mais arriscados para a circulação de cargas, segundo a polícia, também figuram Costa Barros, Caju e Engenho da Rainha; a Avenida Brasil, a Rodovia Presidente Dutra e os municípios de Duque de Caxias e São Gonçalo.

Nesses pontos, além do patrulhamento da PM, agentes da DRFA têm feito rondas diárias para tentar coibir os assaltos. Foi assim que conseguiram interceptar um dos carros que atacaria três caminhões em um posto de combustíveis na Dutra, no início do mês.

Entre as cargas preferidas dos bandidos estão as de cigarros, bebidas, eletrônicos e carnes. As duas primeiras, de acordo com as investigações, têm rumo certo: são revendidas ilegalmente a comerciantes que estão sendo identificados e podem responder por receptação de produto roubado. 

Aparelhos bloqueiam rastreadores

Quadrilhas especializadas no roubo de cargas estão investindo em equipamentos caros para bloquear os sistemas de segurança das empresas. Um dos aparelhos é o jamer, que é comprado pela internet e impede a transmissão de sinais de GPS.

O equipamento é instalado pelos criminosos no acendedor de cigarro do painel do veículo, assim que o motorista é rendido pelo bando. Mesmo que o condutor tente avisar à polícia ou à empresa sobre o roubo, o equipamento bloqueia a comunicação por celular.

A polícia identificou um outro aparelho usado pelos bandidos: o chuveirinho. Funciona como um detector de metais. A quadrilha passa o aparelho em toda a carga até localizar o rastreador do veículo. Ao ser descoberto, o equipamento, que ajudaria a polícia a chegar até o caminhão roubado, é destruído. A polícia tem orientado as empresas a comunicar o roubo imediatamente após perceber que o caminhão não segue sua rota habitual, evitando assim que ele saia da região e dificulte as buscas ao veículo.

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