Por daniela.lima

Rio - Criado pelo presidente Getúlio Vargas, em 1954, como experiência de moradia popular, com seus conjuntos habitacionais, o bairro de Guadalupe, na Zona Norte do Rio, nasceu destinado a fazer história. Nos últimos tempos, entretanto, tem se destacado pela criminalidade. A violência na região impede o trânsito de moradores, desvaloriza imóveis e faz de tiroteios fatos corriqueiros. A invasão do conjunto Residencial Guadalupe no dia 9, liderada por traficantes, chamou atenção para o drama que os moradores já conheciam. 

Invasão do conjunto residencial por traficantes aumentou o pânico na região. Tiroteios são constantesCarlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia

Os números do Instituto de Segurança Pública comprovam o pavor da população. Na área da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), entre janeiro a setembro deste ano, foram 1.006 mil assaltos, contra 764 no mesmo período em 2013. Um aumento de 31%. Roubos de veículos também: de 530 para 669 em 2014, subindo 26%.

Na Estrada do Camboatá, por exemplo, além de assaltos, carros estão sendo roubados e o mais curioso e assustador. Bandidos desmancham e abandonam carcaças de veículos em plena rua, de acordo com moradores.

“Morei no bairro por mais de 50 anos e decidi vender meu imóvel pela metade do preço. Já tive que sair do apartamento para socorrer meu filho, que ficou no meio do fogo cruzado. Hoje, nem penso em voltar”, contou a auxiliar administrativa, que pediu para não se identificar, de 58 anos. Ela tinha um apartamento num conjunto de prédios da Estrada do Camboatá, uma das mais perigosas ruas do bairro. “Aumentar o muro do condomínio e instalar câmeras de segurança não adiantou, pois não víamos policiamento na região”, lembrou.

Quem ainda vive no bairro mudou a rotina e evita sair de casa em determinado horário. “O direito de ir e vir não existe, pois somos refém do medo e do tráfico. São assaltos e toques de recolher quando anoitece. Dá medo viver aqui”, disse um advogado, que também não se identificou, 53, nascido e criado em Guadalupe.

Para moradores, além da Estrada do Camboatá, ruas como a Marcos de Macedo, Fernando Lobo, Delegado Silvio, Manhama, Avenida Rafael de Oliveira e Pedra Rasa têm registrado muitos assaltos a pedestres. 

Moradores denunciam na rede social

Caminhões de bebidas também se tornaram alvo de criminosos. Segundo moradores, cargas são interceptadas na Estrada do Camboatá e em seguida saqueadas.

Para denunciar os casos como estes, três moradores usam uma página nas redes sociais. O ‘Guadalupe News’, que no Facebook tem 20 mil membros e mais de 600 seguidores no Twitter, informa as ações em tempo real. “Recebemos por dia uma média de 20 denúncias”, contou um dos idealizadores da página. 

Ações de criminosos são filmadas por moradores

Ações de traficantes e assaltantes são flagradas pelas ruas do bairro. Na semana passada, grupo de três suspeitos foi filmado por um morador, após exibir duas pistolas num ponto de ônibus da Rua Fernando Lobo. O trio apontou armas em direção a veículos e gritavam: ‘Pó , cocaína, maconha, crack e loló. Pó de cinco’.

Na noite de quarta-feira, outro flagrante. Clientes e funcionários do Shopping Jardim Guadalupe entraram em pânico após três criminosos invadirem o local. Eles fugiam de policiais militares. Um deles foi baleado na Avenida Brasil, rota de fuga de criminosos.

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