
Rio - A Polícia Civil indiciou, nesta seguinda-feira, 12 pessoas pela morte de Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos, encontrada esquartejada e com o corpo carbonizado após ter realizado um aborto no dia 26 de agosto deste ano, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio. Das 12, dez faziam parte da quadrilha do aborto, incluindo o ex-marido de Jandira, Leandro Reis. Uma amiga de Jandira, Kellyene Fernandes também será indiciadada por apoio moral e por dar o telefone da clínica para a vítima. Ela teria dito a Jandira que o local era seguro para a realização do aborto.
Segundo informações do delegado Hilton Pinho Alonso, titular da 35ª DP (Campo Grande), em entrevista na tarde desta segunda, o ex-marido de Jandira e Kellyene serão indiciados com base no Artigo 124, capítulo 29, que criminaliza o aborto. A pena pode ser de ser de 2 a 3 anos e compreende também quem compactua com a prática do aborto.
Além de Leandro e Kellyene, outras duas são mulheres, Natacha Roberta Costa e Andrea Cordeiro da Costa, que também realizaram abortos na clínica serão indiciadas. Os dez identificados como membros da quadrilha responderão por prática de aborto, homicídio qualificado, formação de quadrilha, ocultação de cadáver e fraude processual. A pena destes pode chegar ao máximo de 52 anos de prisão.
"Quando eles viram que ela estava morrendo, preferiram não levá-la ao auxílio médico e tentaram ressuscitá-la num local insalubre e sem os equipamentos necessários”, disse o delegado Pinho.
Jandira abortou com quatro meses de gestação e pagou R$ 4,5 mil. Segundo o delegado, seria o primeiro caso de morte na clínica. A mãe de Jandira, Mariangela Santos, disse que se sentiu aliviada com a conclusão do inquérito e que a filha ficou como exemplo contra o aborto. “Ela fez um ato errado, mas acabou salvando muitas pessoas que queriam fazer aborto e depois dela desistiram”, disse.

Delegado sugere penas mais duras
Para o delegado Hilton Pinho, a quadrilha do aborto de Campo Grande só foi desmontada por causa da morte de Jandira. Muitos dos membros da equipe já tinham passagem na polícia por aborto, como Rosemere e Carlos Augusto. “Eles são facilmente soltos porque a legislação prevê penas leves (três anos de cadeia). O problema está na lei. Ou se aceita o aborto ou se pune mais severamente os que praticam”, disse o policial.
Foragidos
Dos dez apontados como membros da quadrilha que praticava abortos na Zona Oeste, oito já estão presos. Keilla Leal da Silva, que atuava como enfermeira e anestesista da clínica e Ágda Pereira, faxineira, estão foragidas. Na época, Ágda foi solta porque a Justiça entendeu que ela não representava nenhum risco e tem deficiência mental.

O crime
Segundo o delegado responsável pelo caso, a reconstituição do caso indica que Jandira teria feito o aborto e, em seguida, teria começado a inchar e a ficar roxa, apresentando um quadro de hemorragia. O médico e uma enfermeira tentaram ressucitar a jovem por 30 minutos e não conseguiram. Entre 11h e meio-dia eles levaram Jandira no porta-malas do carro para um sítio, em Campo Grande, com ajuda de um miliciano conhecido como Shrek.
Entenda: Miliciano esquartejou corpo de grávida que morreu ao tentar fazer aborto
Shrek fez contato com o caseiro do sítio, chamado Jorge Gagá, também ligado à milícia de Rio da Prata. Lá, os criminosos tiraram as impressões digitais, as pernas e os braços, a arcada dentária, e deram um tiro na cabeça de Jandira. Uma das hipóteses é que teriam dado a perna e o braço da vítima para os porcos do sítio comerem. O que restou do corpo eles levaram para a estrada e colocaram dentro do carro e atearam fogo.