Por thiago.antunes
Rio - Mais uma família chora por uma vítima de bala perdida no Rio. Os familiares de Célia Maria Santos Peixoto, 58, responsabilizam a Polícia Militar pelo tiro que matou a doméstica na tarde de segunda-feira. Antes de ser atingida no rosto, ela se dirigia ao túmulo do neto de 14 anos no Cemitério do Caju em um ritual que cumpria com a família mensalmente desde a morte de Alexandro Lima em um acidente de moto há 1 ano e 1 mês.
Célia estava com o filho mais velho, Márcio Pinheiro Peixoto, e com a mãe do adolescente, Monique Peixoto Pinheiro, quando uma patrulha da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Caju passou em perseguição a um Honda Fit prata. Os policiais alegam que participavam de uma troca de tiros com criminosos. No entanto, Monique nega o confronto e reitera que o disparo que atingiu sua mãe partiu de uma arma usada por PMs.
'O tiro saiu da arma dos PMs%2C eu vi'%2C disse filha de vítima baleada em frente ao Cemitério do CajuCarlos Moraes / Agência O Dia

"O tiro saiu da arma dos policiais, eu vi. Eu quero justiça, enquanto eu viver, vou lutar por justiça. O cenário era horrível e foi covardia porque eles são imprudentes e estão protegidos por colete (à prova de balas). Eu estou indignada. Quando ouvimos os tiros, nós nos abraçamos e caímos. Eu levantei com a minha mãe já morta no chão e os tiros continuaram. São policiais despreparados", se revoltou Monique.

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Muito abalado, o marido da vítima, o eletricista Messias Marques, ainda não conseguiu pensar sobre que medidas vai tomar, mas afirma que vai buscar reparação do estado. Ele relata que ainda não foi procurado por nenhum representante do governo. "Minha mulher foi mais uma vítima da violência no Rio de Janeiro. Hoje em dia, a gente sai de casa e não sabe se volta. O Rio precisa mudar. Nós queremos lutar para que isso não aconteça com mais ninguém. Hoje em dia, estamos à mercê de tudo", lamentou.
Segundo os parentes de Célia, os PMs recolheram todas as cápsulas que ficaram pelo chão antes da chegada dos peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). "Nada do que for feito vai trazer a minha mãe de volta. O que houve foi o despreparo da Polícia Militar que, além de ter atirado com as pessoas na rua, ainda demorou a notificar a Polícia Civil".
O eletricista Messias Marques esteve na manhã desta terça-feira no IML para liberar o corpo de sua esposa Célia Maria Peixoto%2C morta na tarde de segunda-feira%2C no CajuCarlos Moraes / Agência O Dia

De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, foi aberto um "procedimento para apurar as circunstâncias da ocorrência".

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Casos de bala perdida
Na semana passada, um pedreiro morreu após um policial do Batalhão de Choque da PM reagir a uma tentativa de assalto no Centro do Rio. Elivaldo Angelino Ribeiro, 44, foi atingido por um tiro na cabeça no caminho para seu trabalho. Um relatório da ONU divulgado em junho deste ano aponta que o Brasil é o segundo país da América Latina com o maior número de casos de balas perdidas e o terceiro em quantidade de mortes que são consequência deste tipo de violência.
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"No Rio de Janeiro, hospitais locais constroem muros reforçados e usam câmeras de vigilâncias para proteger pacientes e equipe médica da ocorrência de balas perdidas", diz um trecho do relatório.
Já o último balanço do Instituto de Segurança Pública (ISP), divulgado ano passado, aponta para uma redução contínua deste tipo de ocorrência no Estado do Rio nos últimos anos. O documento do ISP contabiliza que, entre 2008 até 2013, foram 62 mortes por bala perdida. Estes números integram um anexo na última página do balanço anual de incidências criminais.