Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Há mais de seis meses o proprietário de um apartamento duplex, em Vila Isabel, tenta vender o imóvel vizinho ao Morro dos Macacos, onde a sede da UPP foi alvejada por tiros, na semana passada. Em outro condomínio, de frente para o Morro do Andaraí, moradores não conseguem se desfazer das unidades com vista para a comunidade. Relatos como esses se repetem no dia a dia dos corretores de imóveis.
Imóveis próximos a comunidades que tiveram UPPs atacadas sofrem%2C há um ano%2C processo de depreciaçãoBruno de Lima / Parceiro / Agência O Dia

Pois uma pesquisa encomendada pela Bolsa de Imóveis do Rio de Janeiro constatou que a onda de ataques a algumas Unidades de Polícia Pacificadora provocou, no último ano, queda de 20% a 30% no valor das unidades situadas no entorno. As áreas mais afetadas estão dispersas pela Leopoldina, pelo Centro e pela Zona Norte, incluindo bairros da Grande Tijuca, como Andaraí, Grajaú e Vila Isabel, e a Penha, onde está parte do Complexo do Alemão.

Após um período de paz e valorização dos imóveis, moradores que vivem próximas a algumas favelas ‘pacificadas’ voltaram a sofrer com tiroteios. Sem compradores à vista, eles veem despencar o preço de seus apartamentos. “Com a entrada da UPP foi uma maravilha. Um sucesso estrondoso nas vendas. Hoje, os proprietários pedem pelo amor de Deus para vender e não conseguem”, conta a corretora Jacinta Palhares.

A depreciação imobiliária ao redor das favelas em conflito é o dobro da observada em outros pontos da cidade e nas favelas da Zona Sul. “Além da desaceleração do mercado em geral, há um receio de potenciais compradores diante dessa onda de violência”, explica o engenheiro Eduardo Pompéia, da Bolsa de Imóveis. Segundo o especialista em avaliação imobiliária, apartamentos residenciais que levavam de três a seis meses para serem comercializados, hoje demoram até um ano. “A maior parte das negociações tem desconto de 15%”, diz Pompéia.
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Estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam aumento de 72,7% no roubo a pedestres e de 36,5% de veículos, na Grande Tijuca, no período de agosto a outubro de 2014, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Atuando na área da Tijuca e arredores, o corretor Marcello Costa já perdeu vendas quando o comprador descobriu que o imóvel ficava próximo a favelas. “Antes as UPPs eram atrativo. Com a série de ataques, as pessoas estão mais descrentes. Hoje ter por perto unidade pacificadora já não é garantia de segurança”, diz.
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Promessa de pacificação ainda é o principal chamariz
?Se por um lado as UPPs afastam possíveis compradores de imóveis, quando se tornam alvos de ataques de bandidos, por outro a promessa de pacificação continua sendo o principal chamariz do mercado imobiliário nas regiões que ainda não contam com as unidades de polícia. A constatação é do vice-presidente Administrativo do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), Ronaldo Coelho Netto. “Qualquer melhoria que vá impactar na vida da população influencia diretamente nos valores dos imóveis. Assim como a chegada do BRT à uma região, a UPP é um diferencial. Basta o governo sinalizar que vai instalar a unidade, para os imóveis começarem a se valorizar ”, observa Netto.
O corretor Marcello Costa perdeu vendas em áreas de riscoBruno de Lima / Parceiro / Agência O Dia

Segundo ele, a tendência é, no momento seguinte à implantação, haver uma acomodação dos preços. Há quatro anos, quando recebeu uma UPP, no Morro dos Macacos, Vila Isabel foi o bairro do Rio que sofreu a maior valorização em termos percentuais do metro quadrado (67,6%), ultrapassando o até o bairro de Ipanema. “Vila Isabel foi muito beneficiada. Era uma bairro tradicional que estava menosprezado pela falta de segurança”, diz Netto.

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O aumento da criminalidade não influencia apenas o valor de venda de casas e apartamentos. Contratos de aluguel tendem a demorar o dobro do tempo para serem fechados em regiões afetadas pela violência. “Quando acontecem confrontos, demora até que as pessoas esqueçam o episódio e voltem a procurar pelos imóveis. Se antes levava um mês e meio para fechar o aluguel, a insegurança adia esse prazo em mais de três meses”, observa Ronaldo Coelho Netto, do Secovi-Rio. Ele acredita que os preços vão continuar estabilizados no próximo ano.
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