Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Um dia depois de O DIA revelar que um estudo do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) apontou a presença de superbactérias na foz do Rio Carioca, que deságua na Praia do Flamengo, a reportagem também constatou a ausência de alertas sobre as condições de balneabilidade ao longo da praia. Os órgãos de fiscalização de águas e esgoto na cidade divergiram sobre as responsabilidades e não anunciaram medidas para prevenir a população sobre os riscos.
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As superbactérias surgiram no ambiente hospitalar e ficaram conhecidas porque produzem uma enzima chamada KPC — característica que impede que os remédios façam efeito contra elas. A infecção humana ocorre tanto por entrada da bactéria no corpo como pelo contato ou ingestão. Por isso, o ideal é evitar água contaminada. A suspeita dos pesquisadores é que as superbactérias estejam chegando à praia devido ao descarte de esgoto hospitalar no rio. Segundo eles, os organismos podem se produzir na areia também, mas não há certeza sobre o tempo que conseguiriam sobreviver. No entanto, alimentadas por antibióticos do esgoto hospitalar, poderiam ter maior sobrevida.
Adultos e crianças ontem na Praia do Flamengo%2C bem perto de onde foi encontrada a superbactériaAlexandre Brum / Agência O Dia

O Instituto Estadual de Ambiente (Inea), principal responsável pela avaliação da balneabilidade da água, disse que a bactéria está inserida no conjunto de micro-organismos analisados nos testes e “é geralmente encontrada em praias impróprias ao banho”. Segundo o Inea, porém, a bactéria “é pouco resistente no meio ambiente, sobretudo, em águas salinas”.

A Cedae, do estado, e a Rio Águas, da prefeitura, trocaram responsabilidade. Em nota, a Cedae informou que “os hospitais devem possuir estações de tratamento próprias” e que a responsabilidade pelo tratamento na região é da prefeitura. Já a Rio Águas informou que o esgoto da área “é de competência da Cedae”.
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A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse não ter registrado casos de banhistas contaminados pela superbactéria A secretaria afirmou seguir “a legislação para a destinação do esgoto de suas unidades hospitalares”, mas admitiu que há um processo de modernização do sistema com estações próprias de esgoto para os hospitais.

Banhistas se surpreendem
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Sem saber sobre a presença da superbactéria, que pode provocar males como infecções urinária e pulmonar, pessoas mergulhavam ontem tranquilamente na Praia do Flamengo, inclusive grupos de crianças. Ao serem informados pela equipe de reportagem, Marcio Luiz Batista, 34, e Ester Silva, 22, ficaram assustados. “Não vamos mais entrar, senão eu vou ter que levá-la para o hospital. Eu entro nessa água desde pequeno e acho que por isso nunca fiquei doente, criei resistência! Falta um emissário”, disse Marcio. “Obrigada por avisar, a gente ia continuar mergulhando sem saber”, afirmou Ester.
O pescador Otavio Germano, de 64 anos, não se surpreendeu ao ver a manchete sobre a superbactéria antes de jogar a isca a poucos metros do local onde ela foi detectada. “Já vi até feto humano aqui e todo tipo de lixo, estou até acostumado. Não sei como querem fazer competição aqui durante as Olimpíadas, os atletas vão todos ficar doentes”, afirmou. “Mas a gente pesca uns robalos, anchovas, linguados. Eu como e nunca tive nada”, garantiu.
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A empresária Andrezza Luiza, de 36 anos, aproveitava as férias escolares para levar o filho e dois sobrinhos para a Praia do Flamengo. Por pouco as crianças não correram risco. “Não vi nenhum aviso, uma placa sequer sinalizando o problema. Sorte que uma moça veio me avisar. É muito descaso das autoridades”, comentou.
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